Relâmpago: Assine Digital Completo por 1,99

Bombas atômicas

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h52 - Publicado em 26 Maio 2012, 22h00

José Francisco Botelho e Eduardo Lima

Erro – Usar uma energia potencialmente benéfica para o desenvolvimento de armas de destruição e, assim, dar início a uma corrida armamentista.

Quem – Cientistas a serviço dos EUA e da Alemanha nazista.

Quando – Entre 1938 e 1945.

Consequências – As bombas de Hiroshima e Nagasaki mataram instantaneamente cerca de 220 mil pessoas e inauguraram a era dos arsenais nucleares.

Às 5 horas e 29 minutos, madrugada do dia 16 de julho de 1945, o deserto do Novo México foi iluminado por um clarão intenso, como se um pequeno Sol tivesse nascido em meio às areias. O estrondo, equivalente à explosão de 20 mil toneladas de dinamite, pôde ser ouvido a 160 quilômetros dali. E uma nuvem em forma de cogumelo se ergueu a 1 200 metros de altitude. Na base militar construída a uma distância segura, um grupo de cientistas observava a experiência com os olhos protegidos por óculos escuros. No fim, tudo saiu como o planejado. A detonação da primeira bomba atômica da história tinha sido um sucesso. Antes mesmo de encerrarem uma rápida comemoração, porém, um deles não resistiu e acabou soltando um comentário sarcástico: “Agora, somos todos uns filhos da mãe”.

Continua após a publicidade

Intenções assassinas

Embora hoje tenha uma série de aplicações pacíficas e louváveis, como a geração de eletricidade e o tratamento de doenças como o câncer, a energia atômica foi inicialmente dominada com intenções puramente assassinas. Desde 1939, o governo americano procurava um caminho que levasse à fissão nuclear. Para isso, reuniu no secretíssimo projeto Manhattan alguns dos físicos mais brilhantes do mundo. O objetivo era criar uma arma capaz de aniquilar cidades ou até países inteiros. E o mais importante: antes que Adolf Hitler o fizesse. A Alemanha nazista tinha liderado a corrida por um bom tempo. Em 1938, a 2ª Guerra Mundial nem havia começado ainda e os cientistas alemães a serviço de Hitler já tinham obtido a fissão do núcleo de átomos de urânio.

Sete anos mais tarde, no entanto, a guerra já estava chegando ao fim. Hitler havia se suicidado, o Exército soviético marchava sobre Berlim e a rendição de seus aliados japoneses era apenas uma questão de tempo, pouco tempo. Mesmo assim, os EUA optaram pelo pior. Na manhã de 6 de agosto de 1945, menos de um mês após o teste no deserto do Novo México, lançaram sobre a cidade de Hiroshima uma bomba atômica. Em segundos, 140 mil pessoas foram instantaneamente incineradas pela explosão. Três dias depois, outro artefato nuclear foi jogado sobre o Japão, dessa vez na cidade de Nagasaki. Resultado: mais 80 mil mortos.

Os cientistas envolvidos no projeto Manhattan confessaram seu arrependimento mais tarde. J. Robert Oppenheimer, considerado o pai da bomba atômica, habilitou-se a dizer em entrevistas que, após aquele primeiro teste nas areias do deserto, sempre lhe vinha à mente um trecho de seu poema favorito, o épico hindu Bhagavad Gita: “E, então, tornei-me a Morte, o destruidor de mundos”. De fato, a invenção de Oppenheimer iria se transformar numa ameaça à existência humana.

Continua após a publicidade

Logo depois da 2ª Guerra, os soviéticos também dominariam a tecnologia para o desenvolvimento de bombas atômicas. Encrenca à vista. E a humanidade passaria décadas temendo um conflito nuclear de proporções globais (leia mais na reportagem da pág. 38).

Fracasso diplomático

O tempo correu, a URSS desmoronou e o mundo já não se sente assombrado pelo fantasma de uma guerra que represente o Juízo Final. Ainda assim, o uso da energia atômica para fins militares continua sendo um problema e tanto. Em 1967, as grandes potências até tentaram controlar o avanço das armas nucleares por meio de um tratado de não proliferação. A ideia era boa: os países que já as detivessem reduziriam gradualmente seus arsenais, enquanto as nações que ainda não tinham chegado lá simplesmente renunciariam a essa pretensão. O acordo, no entanto, acabou redundando num dos maiores fracassos diplomáticos da história recente. Foi mais ou menos assim: todo mundo assinou, mas ninguém jogou fora as bombas atômicas que possuíam. A África do Sul acabou sendo o único país a se desfazer das poucas ogivas que detinha.

Continua após a publicidade

Sonho distante

De lá para cá, novos acordos foram firmados e o número de artefatos nucleares foi reduzido significativamente, sobretudo na Rússia e nos EUA (leia mais no quadro abaixo). No Brasil, que teve um programa nuclear suspeito durante a ditadura militar, a Constituição proíbe o desenvolvimento de armas nucleares. Ainda restam, no entanto, mais de 23 mil dessas armas pelo mundo. “A eliminação completa dos arsenais parece ser um objetivo utópico”, avalia o físico Luis Carlos de Menezes, presidente de uma comissão da Sociedade Brasileira de Física (SBF) que acompanha – e fiscaliza – o programa nuclear brasileiro. “Mas essa deveria ser uma das grandes metas da humanidade para o século 21.”

Hoje, o clube das potências com arsenais nucleares inclui Rússia, EUA, Reino Unido, China, França, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e, possivelmente, Israel. Detalhe nada insignificante: alguns desses países estão em regiões de grande potencial para conflitos. Indianos e paquistaneses, por exemplo, vivem se estranhando. Já os norte-coreanos estão tecnicamente em guerra com seus vizinhos do sul desde 1950, quando começou a Guerra da Coreia. O conflito, que terminou na prática em 1953, nunca foi formalmente encerrado – os dois lados permanecem em trégua, embora os atritos sejam frequentes. E ainda há o caso do Irã, que jura ter um programa nuclear de propósitos estritamente pacíficos, embora pouca gente acredite. O atual regime iraniano não esconde de ninguém que nega a Israel o direito de existir. O temor da comunidade internacional é de que os iranianos joguem uma bomba atômica sobre seus arquirrivais israelenses assim que consigam fabricá-la.

* Os últimos dados disponíveis são referentes ao ano de 2009.

Continua após a publicidade

** Israel e Coreia do Norte não confirmam nem negam a posse de armas nucleares. Fontes: Bulletin of the Atomic Scientists e International Crisis Group (ICG).


Publicidade


Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

ECONOMIZE ATÉ 88% OFF

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês

Revista em Casa + Digital Completo

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
A partir de 10,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.