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Buraco na camada de ozônio deste ano é o menor desde 1982

Mas ainda é cedo para comemorar: a diminuição ocorreu devido a uma anomalia climática rara. Ainda deve levar 50 anos para "tapar o buraco".

Por A. J. Oliveira
21 out 2019, 18h42

Em pleno 2019, ainda há quem duvide da eficácia das vacinas e até mesmo que o aquecimento global tem participação humana. Mas se tem algo que ninguém em sã consciência rechaça é a importância vital do filtro solar. Tanto é que o conselho de usá-lo até viralizou na voz de Pedro Bial. O que nem todo mundo sabe, contudo, é que o planeta Terra também tem um filtro solar — a camada de ozônio. E ela vinha sendo perigosamente destruída.

Sem essa valiosa proteção natural, estaríamos todos à mercê de uma intensa radiação ultravioleta destrutiva que emana do Sol. Um mundo sem ozônio seria um mundo em que os seres humanos teriam bem mais câncer de pele, cataratas e sistemas imunológicos debilitados. Até as plantas pagariam o pato e também sofreriam graves danos fisiológicos. 

Em 1985, os cientistas descobriram que, a cada ano, um buraco cada vez maior se abria nessa camada em cima da Antártida. De lá para cá, um acordo internacional bem-sucedido e a mobilização de vários setores da sociedade tem conseguido ótimos resultados no processo de reverter esse quadro crítico. E a Nasa acaba de divulgar que o buraco na camada de ozônio em 2019 foi o menor desde que começaram as medições.

A cobertura atingiu seu pico anual em 8 de setembro, quando chegou a 10,1 milhões de quilômetros quadrados de extensão. Seguindo a dinâmica natural, que se repete todo ano, o tal buraco foi encolhendo ao longo dos meses de setembro e outubro, ficando com menos de 6,2 milhões de quilômetros quadrados. Normalmente, o buraco alcança um tamanho máximo de 12,8 milhões km2, semanas mais tarde — só por volta do final de setembro ou início de outubro. Isso quer dizer que, em 2019, a recuperação aconteceu de forma mais “rápida”.

buracoozonio01
(NASA Goddard/ Katy Mersmann/NASA)
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“É uma ótima notícia para o ozônio no hemisfério sul”, disse em comunicado Paul Newman, cientista-chefe da divisão de ciências da Terra da Nasa. “Mas é importante reconhecer que o que estamos vendo este ano é devido a temperaturas estratosféricas mais quentes. Não é um sinal de que o ozônio atmosférico está de repente em uma via rápida de recuperação.”

O ano de 2019 foi marcado por uma anomalia climática. Para entendê-la, é preciso ter em mente alguns aspectos fundamentais sobre a camada de ozônio e o processo químico que a esteve corroendo esses anos todos. O ozônio (O3) é feito de três átomos de oxigênio e tem alta reatividade — gosta de interagir com outras moléculas. Sua presença na atmosfera é pequena. Concentra-se na estratosfera, camada que se espalha de 15 km do chão até 35 km de altura. O buraco se abre no fim do inverno.

Conforme o hemisfério sul volta a se inclinar em direção ao Sol após o equinócio, os raios solares incidem em maior intensidade e destroem a camada de ozônio acima da Antártida. A química desse processo precisa de três fatores para ocorrer: dois são naturais, um cai na conta da humanidade. O primeiro fator são as nuvens estratosféricas polares, o segundo são os raios de sol, e o terceiro os compostos à base de cloro e bromo.

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Essas substâncias foram intensamente lançadas na atmosfera a partir dos anos 70, quando os infames CFC (clorofluorcarbonos) passaram a ser amplamente utilizados como gases para refrigeração. Quando o O3, os CFCs e os raios de sol se encontram dentro das nuvens polares, a camada de ozônio é destruída.

Só que, como em 2019 as temperaturas na estratosfera antártica estavam mais quentes que o normal, as nuvens quase não se formaram. Em uma altitude de 20 quilômetros, os termômetros chegaram a marcar 16°C a mais do que de costume. Foi a terceira vez que o fenômeno ainda não compreendido pelos cientistas aconteceu — além dos anos de 1988 e 2002.

Dessa vez foi um comportamento anômalo da atmosfera que reduziu o buraco na camada de ozônio. Mas não há como negar que, no longo prazo, a humanidade está conseguindo resolver o problema. Dados de satélite e de balões meteorológicos da Nasa e da NOAA, a agência oceânica e atmosférica dos EUA, mostram que o buraco cresceu até 2000. 

Desde então, veio decaindo aos pouquinhos a cada ano, mesmo ainda sendo bem grande. Estima-se que só por volta de 2070 os níveis de ozônio vão retomar aos de 1980. Tudo graças ao Protocolo de Montreal, de 1987, que baniu o uso de CFCs. Se o Acordo de Paris tiver o mesmo sucesso para conter as mudanças climáticas, o século 21 será marcado por importantes avanços para a preservação do clima, da atmosfera e da vida no planeta.

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