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Cão selvagem “sumido” há 50 anos é redescoberto na Nova Guiné

Elo perdido entre os cães domésticos e seus ancestrais, o cão dos planaltos de Nova Guiné é considerado por entusiastas o cachorro mais antigo do mundo

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 28 mar 2017, 18h36 - Publicado em 28 mar 2017, 17h10

O cão selvagem dos planaltos da Nova Guiné (Canis lupus dingo) – também conhecido como “cão cantor” por seu uivo agudo – é uma espécie de elo perdido entre os cães domésticos atuais e os lobos que lhes deram origem há alguns milhares de anos. Agora, mais de meio século depois de ter sido avistado pela última vez nas matas de grande altitude de seu habitat natural, a ilha de Papua Nova-Guiné, um grupo com 15 espécimes do cachorro sumido deu “oi” aos participantes de uma expedição – provando que ele não está extinto na natureza, e permitindo análises de DNA inéditas.

O dingo é descrito na literatura científica como um animal inteligente e tímido, que prefere viver solitário em regiões de mata fechada. Na aparência, ele lembra muito um cachorro doméstico – e é isso que ele costumava ser. Cães são lobos que descobriram as vantagens de dar atenção ao ser humano em troca de comida. Por motivos desconhecidos, em algum ponto da pré-história os cachorros já domesticados que se tornariam os cães selvagens da Nova Guiné se afastaram do convívio humano e começaram seu o caminho evolucionário de volta para o lobo, chegando ao meio termo em que se encontram atualmente.

Seu comportamento é ótimo para se safar da extinção, mas torna até uma foto um feito quase impossível. O primeiro suposto registro do cão cantor em seu estado natural foi obra do paleontólogo australiano Tim Flannery em 1989 – 23 anos depois, em 2012, Tom Hewitt, diretor de uma empresa de turismo ecológico que faz expedições na região, fez um clique que foi motivo de muita especulação e rendeu uma entrevista na Scientific American. Até hoje não foi possível confirmar se os animais retratados por Hewitt e Flannery eram mesmo dingos.

De fato, ele é tão talentoso em se esconder que por meio século foi considerado extinto na natureza – cerca de 300 exemplares em cativeiro permitiram estudos mais detalhados e cliques fofos como o deste filhote aqui. “A descoberta e a confirmação do cão dos planaltos pela primeira vez em mais de meio século é uma oportunidade incrível para a ciência”, declarou à imprensa o grupo de preservação que está por trás da descoberta. “Nossa última expedição, em 2016, foi capaz de localizar, observar e coletar evidências biológicas, e confirmar por meio de testes de DNA que pelo menos alguns espécimes ainda existem e se reproduzem em regiões de grande altitude da Nova Guiné.” O material, acumulado por pesquisadores da Universidade de Papua em parceria com uma expedição liderada pelo biólogo James McIntyre, inclui mais de 140 fotos. O primeiro indício foi uma pegada registrada em setembro do ano passado.

Apesar do ânimo do NGHWDF (a sigla que dá nome ao grupo) com a descoberta dos 15 espécimes mencionados anteriormente, há muita discussão no meio científico sobre a validade de classificar o C. l. dingo – também chamado de C. l. hallstromi – como uma espécie ou subespécie única, e não como uma mera variedade de cão selvagem. Ele é um resquício das primeiras tentativas de domesticação de canídeos pela espécie humana, mas passou mais de 6 mil anos isolado na ilha  – tempo suficiente para que ele desenvolvesse aparência e características genéticas únicas. Entusiastas o consideram um dos cães mais antigos do mundo, mas há especialistas mais céticos.

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Em um artigo publicado em 2016, dois pesquisadores da Universidade de Melbourne, na Austrália, afirmam que não há evidências suficientes para dar ao cão cantor uma classificação diferente da dos demais canídeos domésticos anteriores à colonização da Nova Guiné pelos britânicos.  “Não há provas de que esse tipo específico de cachorro de grande altitude seja uma espécie selvagem que sempre viveu isolada, nem de que ele não tenha se originado de animais domésticos em vilarejos da região.” Eles também afirmam que vários mascotes de tribos que sobreviveram à colonização carregam material genético de canídeos também anteriores à chegada dos europeus – ou seja, que o C. l. dingo pode até ser vintage, mas não é exclusividade.

De qualquer maneira, a descoberta de uma quantidade razoável de C. l. dingo em seu estado natural é um passo importante para pôr fim nessa discussão – a NGHWDF afirma que um artigo científico com conclusões já está na reta final da publicação. O cão mais velho do mundo, afinal, pode esperar.

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