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Cenas da vida de uma ciência

Genética, a ciência mais promissora dos últimos tempos e suas proezas.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 30 abr 1989, 22h00

Trinta e seis anos depois de conhecida a estrutura do DNA – a molécula espirada, ou em dupla hélice, que guarda a bagagem genética dos seres vivos -, pesquisadores americanos obtiveram pela primeira vez uma imagem direta dessa substância da hereditariedade. A proeza foi possível graças a um microscópio de tunelamento eletrônico (SI n.°2, ano 3), que proporciona um aumento de 1 milhão de vezes da amostra focalizada. No caso, usou-se um fragmento de DNA tem a forma retorcida que lhe atribuíam os cientistas a partir de observações indiretas. Para além de sua utilidade científica, a imagem ao vivo do DNA sintetiza de certo modo a coleção de avanços revolucionários que tem feito da Genética a ciência mais promissora dos tempos atuais. Outras proezas:

Depois de algumas escaramuças judiciais, cientistas americanos foram autorizados a realizar o primeiro transplante de genes em seres humanos. Dez pacientes terminais de câncer, com expectativa de vida de noventa dias, terão incorporado à sua bagagem genética um tipo de linfócito (glóbulo branco do sangue), cuja estrutura genética foi alterada de modo a conter o gene de uma bactéria resistente a antibiótico. O transplante não se destina a introduzir em seu organismo um linfócito marcado, permitindo assim aos cientistas acompanhar a sua ação – e abrindo caminho para futuros transplante de material genético, ai, sim, com propriedades terapêuticas.

Pesquisadores ingleses conseguiram traçar o perfil genético do citomegalovírus, o vírus gigante do herpes. Eles identificaram a seqüência exata dos 250 mil pares de bases químicas que constituem os duzentos genes do vírus, um número quase vinte vezes superior ao do vírus comuns. Nunca antes havia sido analisado um segmento contínuo tão extenso de uma molécula de DNA. Cada gene codifica uma proteína responsável por determinada característica do vírus. O mapeamento permitiu descobrir que em duas dessas proteínas pode estar a chave para a fabricação de uma vacina sintética contra o citomegalovírus, responsável também por infecções mortais em pacientes de transplantes.

Na Argentina, a Genética poderá devolver a suas famílias as 208 crianças seqüestradas pelas forças de segurança ao longo do regime militar. Seqüestradas junto com os pais – que passaram a integrar as listas dos “desaparecidos” da ditadura – ou nascidas nas prisões e entregues a famílias de simpatizantes do regime, elas vêm sendo procuradas há anos pelas incansáveis “avós da Praça de Maio”. A partir de genes conhecidos como marcadores genéticos, cuja semelhança em várias pessoas indica laços familiares (com margem de erro de ínfimo 0,01 por cento), é possível achar a verdadeira família de uma criança adotada. Já foram assim devolvidas 54 crianças.

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Depois de ratos, porcos e ovelhas (SI n.º4, ano 3), chegou a vez dos mosquitos transgênicos. Cientistas americanos inseriram genes alheios em ovos de mosquito: quando a prole se tornou adulta, foi cruzada entre si, transmitindo o gene forasteiro aos descendentes. Esse pode ter sido o primeiro passo para a criação por engenharia genética de uma linhagem de mosquitos incapazes de transmitir malária, dengue ou febre amarela. E quem sabe no futuro remoto, para o nascimento de populações inteira de mosquitos benignos.

O debate que cerca o transplante de genes não-humanos em doentes de câncer surgiu também na Europa, onde se planeja desenhar o mapa genético do homem. Assim como os americanos com seu Projeto Genoma (SI n.º6, ano 2), os europeus querem investir uma fábula de dinheiro para chegar à localização exata nos cromossomos dos 100 mil genes humanos. Mas a discussão não é financeira: escaldados pelas lembranças das teorias raciais nazistas, os europeus querem primeiro criar salvaguardas contra toda utilização do conhecimento do genoma humano que implique em formas de discriminação. Pois, podendo-se saber como é a cédula de identidade genética de uma pessoa, será também possível identificar predisposições a doenças hereditárias (por ausência ou presença de um gene) e exercer algum tipo de discriminação contra essa pessoa.

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