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Chimpanzés são humanos

Pesquisas mostram que a semelhança entre chimpanzés e humanos é de 99,4%, fazendo-os passarem do gênero Pan para Homo, posto antes ocupado apenas pelo homem

Por Denis Russo Burgierman
Atualizado em 2 nov 2016, 01h34 - Publicado em 30 jun 2003, 22h00

Chimpanzés são humanos

Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança. Depois, logo após aconselhá-lo a crescer e a multiplicar (conselho que a humanidade acatou ao pé da letra), Ele recomendou: “Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam na terra”. Está lá, no Gênesis. O homem é o ápice da criação, o ser supremo entre os vivos. Os outros bichos, todos, existem só para o nosso desfrute. Essa idéia de superioridade humana está impressa no Velho Testamento e, portanto, na mentalidade da civilização ocidental. Somos únicos, singulares, especiais. Os outros são os outros. Não admira que a pesquisa publicada em maio na prestigiada revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences por um grande time de cientistas tenha irritado tanta gente. Para encurtar a história, os cientistas estão afirmando que os chimpanzés pertencem ao gênero humano. Que tal essa?

Os pesquisadores analisaram genes de chimpanzés e de humanos. A conclusão é que os códigos genéticos são quase idênticos. Já se sabia que 95% a 99% dos genes deles são iguais aos nossos. Só que a nova pesquisa mostrou que a semelhança é de 99,4%. Animais com só 0,6% de diferença não podem ficar em galhos separados da classificação das espécies. As duas espécies de chimpanzés, portanto – chimpanzés comuns e bonobos – devem sair do gênero Pan e pular para o galho do gênero Homo, onde o homem sentava sozinho, admirando com ar superior o resto da criação.

Foi mais um golpe duro da ciência na nossa pretensa superioridade. Quem começou essa história foi o astrônomo polonês Nicolau Copérnico, que, no ano de sua morte, 1543, publicou um livro que removia a Terra do centro do Universo. Ela passava a ser apenas um entre tantos planetas dando voltas no Sol. Em 1859, veio o inglês Charles Darwin demonstrar que as espécies evoluem umas das outras e que, portanto, somos apenas uma entre elas. De lá para cá, seguidores de Copérnico mostraram que nem mesmo o Sol está no centro do Universo: ele é só uma estrela na periferia de uma entre tantas galáxias. E os seguidores de Darwin foram demolindo uma a uma todas as supostas provas da singularidade humana. Só faltava essa: agora não temos mais nem um gênero próprio. Se Deus foi mesmo responsável por toda a criação, ele tinha um senso de ironia maior do que se supunha.

Não somos tão especiais

Todas as características tidas como exclusivas dos humanos são compartilhadas por outros animais, ainda que em menor grau

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Inteligência: a ideia de que somos os únicos animais racionais tem sido destruída desde os anos 40. A maioria das aves e mamíferos tem algum tipo de raciocínio.

Amor: o amor, tido como o mais elevado dos sentimentos, é parecido em várias espécies, como os corvos, que também criam laços duradouros, se preocupam com o ente querido e ficam de luto depois de sua morte.

Consciência: chimpanzés se reconhecem no espelho. Orangotangos observam e enganam humanos distraídos. Sinais de que sabem quem são e se distinguem dos outros. Ou seja, são conscientes.

Cultura: o primatologista Frans de Waal juntou vários exemplos de cetáceos e primatas que são capazes de aprender novos hábitos e de transmiti-los para as gerações seguintes. O que é cultura se não isso?

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