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Cientistas descobrem por que os flamingos ficam em uma perna só

A postura é muito mais vantajosa, do ponto de vista energético e prático. Para que se mantenham assim por horas a fio, o segredo está nos joelhos

Por Guilherme Eler
25 Maio 2017, 19h38

O que vem primeiro à sua cabeça ao lembrar dos flamingos? Em nossa imagem mental, os bichos provavelmente estarão paradões em uma perna só, cobrindo a água com seu bando como se fossem pedaços de algodão doce. E isso não é só senso comum: eles realmente vivem boa parte de suas vidas nessa pose imóvel de saci-pererê, podendo ficar assim por várias horas e até mesmo dormir na mesma posição. Mas os cientistas nunca tinham parado para investigar a fundo a questão especificamente nessas aves – e a função além da estética que ela possui.

Uma das teorias anteriores explicava a prática como forma de regular a temperatura corporal. Baixar ambas as pernas enquanto estivessem em repouso implicaria perder o dobro de calor do corpo para a água. Havia ainda outra hipótese: dar um descanso para os membros inferiores. Da mesma maneira que você ajeita a postura, distribuindo o peso do corpo para ficar mais confortável em pé no ônibus, os flamingos também revezariam suas pernas ao resolverem passar mais horas em seu banho de sol.

Mas, segundo uma pesquisa publicada no periódico Biological Letters, esse hábito de ficar em um pé tem um propósito diferente. No fim das contas, ficar igual saci serve apenas para evitar a fadiga. É isso mesmo. Recolher uma das pernas confere uma posição de descanso mais cômoda do que a convencional para os flamingos, bípedes por natureza. E, além disso, gasta uma quantidade menor de energia.

Para chegar a essa conclusão, pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos EUA, analisaram corpos de flamingos mortos do Zoológico de Atlanta. Era impossível para os cadáveres rosados parar em pé com as duas pernas. Esse fato, de acordo com os pesquisadores, indica que ficar com os dois pés juntos do chão demanda a utilização de muita força muscular para sustentação.

No entanto, os flamingos mortos, como se fossem um pirulito, conseguiam ser equilibrados perfeitamente sobre uma perna só. Essa postura permite que as aves distribuam seu peso sem exigir que nenhum músculo trabalhe. Como já tinham passado para uma melhor, as aves não teriam mesmo como usá-los para a tarefa de se manter de pé.

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Mesmo quando inclinados para frente ou para trás a um ângulo de 45º, os cadáveres de flamingo equilibrados em uma perna só não perdiam a pose, com o joelho se ajustando para manter contato com o solo. Isso porque suas articulações são firmes o suficiente para aguentar a ação da gravidade e o peso dos bichos, mas adaptáveis o suficiente para essas transições de estabilidade. O ângulo da perna dos cadáveres era muito próximo do mesmo adotado pelos bichos ao recolher a perna para ficar na posição perneta.

Aquela varetinha fina, que é a perna dos flamingos, não pode dar conta de manter o bicho em pé melhor do que uma postura bípede – você deve estar pensando. E, de fato, por si só, não é mesmo. A explicação está em uma característica biomecânica dos bichos.

Essa posição só é possível por conta da ossatura privilegiada do animal. Parados na mesma posição, é como se eles estivessem sempre de joelhos flexionados. Esse fato é que confere a estabilidade à postura. Sem estar com uma das pernas recolhidas, eles tinham de esticar ambas, perdendo a flexão dos joelhos que confere sua estabilidade. Se estiverem vivos para isso, conseguem compensar esse fator com a força dos músculos – mas seria um trabalho maior.

Se você trabalha em pé ou tem de enfrentar filas de banco com frequência maior que a recomendada, sabe que passar muito tempo com os dois pés no chão não é lá tão simples. Antes de se escorar em algum lugar ou procurar uma cadeira para sentar, dar uma flexionada nos joelhos enquanto se equilibra em um pé só pode ser a solução para dar uma aliviada momentânea na coluna. Bom, com os flamingos funciona.

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