Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Cientistas devem ser responsabilizados por seus atos

Confiamos nos pesquisadores para nos alertarem sobre desastres naturais. Mas, se eles enviam a mensagem errada, devem pagar por isso

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h46 - Publicado em 23 nov 2011, 22h00

John Mutter*

Um julgamento iniciado em setembro na Itália vem gerando repúdio da comunidade científica mundial. Seis cientistas e um funcionário público são acusados de negligência ao avaliar os riscos de um terremoto que deixou 309 mortos e 1500 feridos na cidade de L¿Aquila, em 2009. Os 7 acusados integravam um conselho consultivo do governo e estão sendo processados por homicídio culposo. Segundo a promotoria, eles poderiam ter emitido um alerta adequado que salvaria muitas das vítimas.

Não acho que os cientistas cometeram um crime, então não deveriam ir para a cadeia. Mas acredito que eles atuaram de forma irresponsável ao não alertar a população sobre os riscos do terremoto. Assim, eles deveriam ser repreendidos por meio de ações de acordo com a lei italiana. Cientistas a serviço do governo que agem de maneira irresponsável devem pagar de alguma forma por seus erros – tal como acontece com um policial, por exemplo.

É por isso que eu me recusei a assinar uma carta aberta em apoio aos cientistas italianos. O texto, com mais de 5 mil membros da comunidade científica, afirma que eles estão sendo julgados por não preverem um terremoto – sendo que antecipar um evento assim é tecnicamente impossível. Ora, esse não é o ponto. Não se pode mesmo prever um terremoto. O problema foi a mensagem que os cientistas mandaram ao público. Nas semanas anteriores à tragédia, uma sequência de pequenos tremores atingiu a região de L¿Aquila. A população ficou nervosa, e muita gente decidiu dormir fora de casa. É o que costuma fazer quem mora em áreas de risco quando a terra começa a tremer. Os moradores receberam ainda a informação de um técnico (que não fazia parte do conselho do governo) de que o solo da região emitia altos níveis do gás radônio – o que pode ser indício de um grande tremor. Assim, quando as pessoas perguntaram ao governo o que estava acontecendo, o porta-voz do conselho de cientistas (o 7º acusado) disse que a situação sísmica era “normal” e que o panorama era até favorável. Essas palavras foram interpretadas pelas pessoas como “Não se preocupem, não haverá um grande terremoto”. E o que elas fizeram? Voltaram para casa; centenas morreram ou se feriram. Os cientistas poderiam ter corrigido a declaração do porta-voz, mas nada fizeram.

Continua após a publicidade

Não podemos dizer que um terremoto vai ocorrer, mas tampouco podemos dizer que ele não vai ocorrer. A mensagem correta seria: “A informação que temos é incompleta. Talvez haja um terremoto, talvez não. Você pode dormir fora de casa se quiser. Se for ficar dentro, lembre-se: ao sentir vibrações, proteja-se debaixo de algo como uma cama, mesa ou o batente de uma porta. Armazene água e comida; provavelmente vai faltar eletricidade”. Medidas assim salvam vidas. Crianças japonesas as aprendem desde os 3 anos. Mas nada disso foi dito em L¿Aquila.

* John Mutter é sismólogo do Lamont-Doherty Earth Observatory, da Universidade de Columbia, EUA.

Os artigos aqui publicados não representam necessariamente a opinião da SUPER.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.