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Cientistas identificam cratera mais antiga da Terra

Meteoro que atingiu a Austrália há 2.2 bilhões de anos deixou uma marca de 70 quilômetros de tamanho.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 12 mar 2024, 16h56 - Publicado em 22 jan 2020, 11h16

O impacto de um grande meteoro não é um evento geológico que costuma passar despercebido. E não é só pela quantidade imensa de energia liberada ou pela nuvem de poeira e detritos que se forma depois que ele toca a Terra – que foi suficiente para bloquear o Sol e contribuir para a extinção em massa dos dinossauros, por exemplo. A cratera resultante de sua aterrissagem pode ter dimensões massivas, marcando o relevo por vários quilômetros.

Ainda assim, vira e mexe descobrimos um novo buraco do tipo incrustada em algum canto do planeta. Foi o que aconteceu na semana passada. Quem é leitor da SUPER acompanhou a história: há 800 mil anos, um meteorito atingiu em cheio a superfície terrestre, espalhando estilhaços de rocha por 10% do globo. Solidificada por uma espessa camada de magma, cientistas encontraram uma vala profunda, com quilômetros de extensão, no sul do Laos, país da Ásia.

Uma semana após a divulgação do achado, geólogos puderam novamente comemorar um grande feito. Agora,  trata-se da descoberta daquela que é considerada a cratera mais antiga da história a marcar nosso planeta. Chamada Yarrabubba, ela tem nada menos que 2.2 bilhões de anos de idade e 70 quilômetros (!) de tamanho, e se encontra no oeste da Austrália. Pesquisadores da Nasa que lideraram a descoberta publicaram um artigo científico sobre ele na revista Nature Communications na última terça-feira (21).

Yarrabubba quebrou o recorde anterior em 200 mil anos. Antes, o título de impacto mais antigo pertencia à cratera Vredefort, na África do Sul, descoberta há 25 anos. O buraco de Yarrabubba já era conhecido pelos cientistas, mas foi a primeira vez que conseguiram averiguar o quão velho ele é.

A idade do mais novo detentor do título foi detectada via análise das formações rochosas dos arredores – mais precisamente, micro-estruturas de rocha cristalizada (zirconita e monazita) que se formaram quando o objeto celeste despencou. Esses cristais contêm urânio, elemento químico que é radioativo. Foi só acompanhar seu processo de decaimento para ter uma estimativa da idade dos minerais e, por tabela, da cratera.

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Fazendo as contas sobre o período geológico em que o impacto aconteceu, é possível notar que ele data do final de uma glaciação intensa. Nesse período do planeta, a Terra era como uma bola de neve: tinha temperaturas baixíssimas e era coberta por uma camada de gelo com até 5 quilômetros de espessura.

Usando simulações de computador, cientistas calcularam que o impacto de um meteoro com as dimensões de Yarrabubba possa ter lançado 200 trilhões de quilos de vapor d’água para a atmosfera. Isso, segundo a hipótese dos autores, pode ter ajudado a aumentar a temperatura do planeta e derreter as calotas geladas, acelerando o fim do período de glaciação. A teoria não foi comprada pela comunidade científica, que argumenta que um meteoro com essas proporções dificilmente reverteria um processo tão intenso. A ideia, agora, é entender melhor a extensão dos efeitos que o impacto do asteroide poderia ter trazido a essa Terra primitiva.

“Tudo muito legal, tudo muito bonito. Mas como é possível que uma cratera tão grande e com metade da idade da Terra tenha passado despercebida por tanto tempo? Não é provável que existam outras do tipo?”, você, leitor, pode estar imaginando. De acordo com cientistas, eventos como erosão e o movimento das placas tectônicas podem ter feito o trabalho de escondê-las, enterrando crateras antiquíssimas debaixo de uma camada de rocha. Isso aconteceu sobretudo com impactos que ocorreram há mais de 2 bilhões de anos.

“Ainda existem várias lacunas sobre os registros de impacto de asteroides. Nós conhecemos milhares de crateras na superfície da Lua, mas apenas 190 áreas de impacto na Terra”, disse o autor do estudo Timmons Erickson, do Centro Espacial Johnson, da Nasa, em entrevista à Cosmos Magazine. É bem possível, então, que muitas outras áreas que sentiram o impacto de asteroides estejam escondidas em algum lugar da superfície terrestre, só esperando para serem descobertas.

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