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Como a vida de Sigmund Freud pode inspirar a sua

"Ser completamente honesto consigo mesmo é um bom exercício"

Por Salvador Nogueira
Atualizado em 23 mar 2020, 21h14 - Publicado em 7 abr 2017, 19h29

A trajetória de Freud é uma importante história de alerta. Ela mostra como a intuição pode revelar alguns dos mais profundos segredos do âmago humano, mas também como temos de tomar um cuidado extremo para não ficarmos enamorados dela a ponto de não enxergarmos outros sinais que nos permitam avançar.

Não resta dúvida de que o desenvolvimento da psicanálise – com seus acertos e erros – foi importante para o desenvolvimento do pensamento acerca do funcionamento intrínseco da mente. E Freud teve pontos de partida científicos sólidos. Tanto que, de início, buscou na neurologia – e não na psicologia – as respostas sobre o tema. Somente depois de constatar que o campo das neurociências então era insipiente demais para destravar os segredos da nossa própria vida mental, ele partiu para o campo da investigação por meio da terapia pela fala e, daí, formulou hipóteses válidas.

O problema foi o que ele fez delas a seguir. Em ciência, hipóteses são proposições extraídas da observação da realidade que precisam posteriormente ser corroboradas por experimentos. No caso de Freud, seus testes eram feitos por meio das histórias de vida de seus pacientes submetidos à psicanálise. Em alguns desses testes, suas ideias pareciam ser corroboradas; em outros, parcialmente; em mais alguns, ele acochambrava; e no restante, simplesmente o mais completo malabarismo era exigido. Em resumo, as hipóteses não justificavam o tanto de confiança que Freud depositava nelas.

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No entanto, sua retórica era tão hábil que, a despeito das falhas, a assim chamada teoria psicanalítica ganhou rapidamente um sem-número de adeptos. Há quem diga que a principal contribuição de Freud ao pensamento humano tenha sido na literatura, e não na psicologia! De toda forma, alguns de seus seguidores, dentre eles notoriamente Carl Jung, não tardariam a enxergar rachaduras na torre de marfim de Freud.

Sua resposta foi criar um grupo politizado em defesa da psicanálise. Que reação mais anticientífica? Imagine se, diante da teoria da relatividade geral de Einstein, um grupo de físicos conservadores tentasse criar um comitê para manter os rumos da pesquisa firmemente norteados pelos conceitos newtonianos de espaço e tempo? Seria uma ação no mínimo retrógrada, para não dizer desonesta.

Então Freud foi completamente desonesto para proteger sua teoria? Não, não foi. Note que, no exemplo de Einstein e Newton, de fato apareceu uma nova teoria capaz de explicar mais fatos e abarcar mais fenômenos. No caso da psicanálise, nunca houve uma tese claramente superior capaz de “engoli-la”. Não por acaso, apesar de suas falhas (que hoje são reconhecidas e contornadas por uma parcela significativa dos profissionais de psicologia a seguir a linha freudiana), a psicanálise continua a prosperar – embora encontre resistências entre muitos neurocientistas.

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O importante dessa história é: Freud, a exemplo de todos os gênios de todos os tempos, teve boas ideias e más ideias. Nem sempre a intuição leva ao destino certo, mas em muitos casos isso acontece. Ao apontar um novo caminho de investigação da mente, o pai da psicanálise já merece um lugar no panteão dos grandes. Seu problema foi não ter aceito que talvez parte de suas ideias merecessem mais reflexão. E ter tentado impor isso a outros, provavelmente numa batalha de egos com colegas que ele preferia ter como meros seguidores.

O brilhantismo tem um enorme valor, mas não nos torna imunes ao erro. É preciso acima de tudo humildade e flexibilidade para reconhecermos rapidamente quando estamos errados. Freud poderia ter ido ainda mais longe se exercitasse mais essas qualidades.

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