José Augusto Lemos
A distribuição espacial do som não é apenas uma ciência: é também uma arte. Tudo começou com o sistema de gravação chamado multitrack, ou multipista, em que vozes e instrumentos são primeiramente gravados em canais separados. Na etapa seguinte, a mixagem, esses sinais sonoros são posicionados à esquerda, à direita, no centro ou em pontos intermediários – isso, é claro, numa gravação estéreo, que reduz toda a massa sonora para dois canais. A evolução dos sistemas de distribuição espacial do som partiu de um único fato: os dois ouvidos não ocupam a mesma posição no espaço. Por isso, as ondas sonoras chegam até eles em instantes diferentes. A diferença é de milésimos de segundo, mas o cérebro consegue percebê-la. “A idéia dos técnicos foi aproveitar esse dado da natureza e produzir equipamentos capazes de combinar sons diferentes, vindos de várias direções ao mesmo tempo”, diz Antonio Rabitti, engenheiro eletrônico da Philips. O objetivo é fazer com que o ouvinte tenha a sensação de que está na platéia de um concerto – ou que o espectador de um filme perceba seus efeitos sonoros como se estivesse dentro da própria cena. Procura-se, em resumo, forjar uma massa sonora tridimensional. Para isso, os cinemas mais modernos, assim como os home theaters mais sofisticados, aumentaram para seis o número de canais da mixagem final. Este é o chamado sistema Surround ou 5.1, também adotado para a TV digital e o DVD Audio, programado para substituir, nos próximos anos, os atuais CDs estéreo.
Tudo ao mesmo tempo agora
O sistema mais moderno de distribuição espacial do som utiliza os seis canais assinalados nesta página. No cinema, o som se distribui pelas caixas acústicas de acordo com o que acontece na tela. Se a imagem mostra um avião voando da esquerda para a direita, o ruído também se desloca da caixa frontal esquerda para a frontal direita. De modo semelhante, a massa sonora pode ser jogada das caixas frontais para as caixas surround, situadas atrás do espectador, e vice-versa.
Graves na traseira
Os falantes do tipo subwoofer são especiais para as freqüências mais baixas, que produzem os sons graves. Como esse canal nem sempre é utilizado, o sistema de seis canais foi batizado de 5.1. O ouvido humano não distingue a direção das ondas de freqüência baixa, por isso a posição exata dessa caixa é irrelevante – mas costuma ficar às costas do ouvinte.
Mão única
Os primeiros discos gravados dos dois lados, introduzidos em 1904, eram monofônicos – utilizavam um único canal ou pista de gravação. Se um disco desses for ouvido num equipamento moderno, todas as caixas emitiriam o mesmo som. Resultado: a massa sonora parece chapada, plana, sem espacialidade.
Ilusão espacial
Em 1939, surgiram os primeiros discos estereofônicos, invenção que deu aos ouvintes uma sensação espacial que jamais haviam experimentado. Dois canais – um esquerdo e outro direito – já são suficientes para criar a ilusão de tridimensionalidade. Enquanto os instrumentos podem ser posicionados mais para a esquerda ou para a direita, a voz costuma ficar no centro. Para isso, basta mixá-la com o mesmo volume em ambos os canais.
Fidelidade máxima
O sistema quadrifônico foi lançado como artigo de luxo nos anos 70, mas era tão caro que não pegou. A partir daí, os cinemas passaram a liderar a tecnologia de distribuição espacial do som. Os dois canais estéreo só possibilitavam criar a sensação de tridimensionalidade em um espectro de 180 graus. Para preencher em 360 graus todo um ambiente foram criados, na década de 80, sistemas de cinco (batizado ProLogic) e seis canais (o atual 5.1). Com os home theaters e as novas mídias digitais (DVD e DVD Audio), a sofisticação sonora do cinema chegou, enfim, à sala de estar.
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