PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana

Derretimento das geleiras na Groenlândia atingiu ponto sem retorno, diz estudo

A quantidade de neve que cai na ilha já não consegue repor o volume de gelo derretido, e isso vai continuar mesmo se a temperatura parar de aumentar.

Por Bruno Carbinatto
19 ago 2020, 16h40

Mais de 80% da Groenlândia, um enorme território dinamarquês entre a América do Norte e a Europa, é coberto por gelo, fazendo da região o segundo maior reservatório de água congelada do mundo, atrás apenas da Antártica. A ilha é especialmente vulnerável ao aquecimento global e tem sido monitorada por cientistas nas últimas décadas – e os dados mais recentes não são nada animadores. Segundo um novo estudo, o derretimento das geleiras da Groenlândia chegou a um ponto irreversível, em que não é mais possível impedir que as geleiras parem de diminuir. 

Na prática, isso quer dizer que o derretimento do gelo na região é maior que o nível de neve que caí na superfície para repor o gelo derretido, ou seja, as geleiras estão efetivamente diminuindo de tamanho. Nem se a temperatura parar de aumentar magicamente do dia para noite as geleiras pararão de derreter – por isso o termo “irreversível”.

São esses os resultados de um estudo feito por pesquisadores americanos e holandeses e publicado na revista Nature. Os cientistas estudaram quase 40 anos de dados de mais de 200 geleiras na Groenlândia coletados mensalmente por satélites. Eles observaram especialmente duas variáveis: o derretimento dessas geleiras nos oceanos e o volume de neve que cai sobre a região, que funciona como reposição desse gelo derretido. “Descobrimos que o gelo que está sendo liberado no oceano ultrapassa em muito o volume de neve que se acumula na superfície”, explicou Michalea King, autora principal do estudo, em comunicado.

Nas décadas de 1980 e 1990, havia um equilíbrio entre a quantidade de gelo que derretia ou se partia das geleiras e a neve que caia na superfície, o que, segundo o estudo, mantinha a quantidade de gelo na Groenlândia estável, com poucas variações. Nessas décadas, cerca de 450 gigatoneladas (450 bilhões de toneladas) se perdiam nos oceanos todos os anos, mas praticamente a mesma quantidade era resposta pelas nevascas.

No começo dos anos 2000, porém, o derretimento cresceu rapidamente, chegando a 500 gigatoneladas anuais. Mas o nível de reposição via neve não aumentou tanto assim – o que significa que, na prática, as geleiras passaram a perder volume. Desde 1985, então, as geleiras da região retraíram três quilômetros, em média. O problema é ainda maior se pensarmos que o derretimento funciona como um efeito em cascata – quanto mais o gelo derrete, as geleiras tendem a se partir em pedaços menores, o que significa que uma maior superfície de gelo está em contato com a água do oceano, que, por sua vez, derrete esse gelo.

Continua após a publicidade

Segundo estimativas do estudo, hipoteticamente o manto de gelo da Groenlândia só conseguiria ganhar volume – ou seja, a neve seria maior do que o derretimento – em um único ano nos próximos cem. Todos os outros 99 anos devem seguir com a perda de gelo superando sua reposição, mesmo que a temperatura média do planeta pare de aumentar.

Não é de hoje que preocupações com a Groenlândia ganham destaque na comunidade científica. De fato, as geleiras da região são as principais responsáveis pelo aumento do nível do mar já observado – cerca de um milímetro por ano pode ser atribuído ao derretimento da ilha. Estimativas anteriores já mostraram que, se todo o gelo da Groenlândia derreter um dia, isso levaria a um aumento de quase sete metros no nível do mar – o suficiente para inundar várias cidades costeiras pelo mundo.

Os pesquisadores lembraram, porém, que apesar dos resultados negativos, isso não significa que a humanidade deva desistir de seu combate ao aquecimento global. Afinal, mesmo que a região pareça estar fadada a derreter, a velocidade disso não é fixa – e impedir que a temperatura média continue aumentando ajuda a atrasar e muito esse processo, dando tempo para a humanidade se preparar para as consequências e pensar em outras estratégias ambientais.

Publicidade


Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.