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Efeito dominó irreversível das mudanças climáticas já pode estar em curso

Artigo na Nature revela que vários pilares da estabilidade da Terra – como as florestas equatorias, o permafrost siberiano e as geleiras do Ártico – estão entrando em colapso simultaneamente. E um amplifica o efeito do outro.

Por A. J. Oliveira
Atualizado em 12 mar 2024, 16h08 - Publicado em 29 nov 2019, 20h52

Você sabe bem o que acontece quando enfileiramos um punhado de peças de dominó e a última delas é derrubada: ela arrasta junto todas as outras. Quanto mais nosso entendimento em sustentabilidade avança, mais claro fica que a habitabilidade da Terra funciona como uma gigantesca fileira de dominós. E vários indícios apontam que não é só uma peça que ameaça tombar — são nove.

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Especialistas de renomadas instituições de pesquisa pelo mundo publicaram nesta quarta (27) na revista Nature um artigo com a conclusão de que metade dos “pilares” de sustentação da estabilidade climática global parecem começar a desabar. Cientistas da área chamam essas “peças de dominó” de tipping points: pontos de ruptura que, se ultrapassados, ameaçam desestabilizar todo o sistema terrestre.

Esse conceito foi criado há cerca de 20 anos pelo IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da ONU. Naquela época, os pesquisadores achavam que só haveria risco de efeito cascata caso as temperaturas globais subissem 5°C acima dos níveis pré-industriais – o que deve acontecer até o final do século, se nada mudar. É motivo de consternação ver que a situação é mais grave do que se pensava.

“Não é só que as pressões humanas na Terra continuam crescendo a níveis sem precedentes”, disse em comunicado o co-autor Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático. “Também se trata de que conforme a ciência avança, nós precisamos admitir que subestimamos os ricos do desencadeamento de mudanças irreversíveis, em que o próprio planeta amplia o aquecimento global.”

E isso com apenas 1°C de aumento na temperatura. Os nove tipping points que aparentam ter sido ativados ficam nas geleiras do Ártico, da Groenlândia e da Antártida, nas florestas boreais, nas correntes do Oceano Atlântico, na Amazônia, em recifes de corais e no permafrost (o solo permanentemente congelado do Ártico). São todos elementos vitais para manter aspectos básicos do nosso planeta funcionando da forma como funciona hoje.

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“Cientificamente, isso fornece evidências fortes para declarar um estado de emergência planetária, para desencadear ação mundial e acelerar o caminho adiante para um mundo que possa continuar evoluindo em um planeta estável”, afirma Rockström.

Mas como é possível que ecossistemas tão diversos e distantes estejam encadeados numa mesma fileira de dominó? Bem, por maior que a Terra nos pareça, ela não é tão grande assim.

Muitos dos ciclos e processos que ocorrem em escala regional afetam o equilíbrio do sistema na escala global. As florestas tropicais, as boreais e o permafrost, por exemplo, são tipping points especialmente catastróficos. A vegetação, quando queimada, emite CO2 na atmosfera – bem como gelo siberiano, que ao derreter libera gases de efeito estufa que antes estavam retidos no solo. Já a perda total das geleiras da Groenlândia e da Antártida causaria um aumento de 10 metros no nível do mar — com danos irreparáveis às populações costeiras do planeta.

Nem tudo está perdido, contudo.

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“É possível que nós já tenhamos passado do limiar para um efeito cascata de tipping points inter-relacionados”, disse outro co-autor da análise, Tim Lenton, da Universidade de Exeter, no Reino Unido. “No entanto, a taxa nas quais eles progridem, e portanto o risco que eles oferecem, podem ser reduzidos se cortarmos nossas emissões.” No artigo, os cientistas analisam tal efeito no derretimento das geleiras.

Contendo o aquecimento global a 1,5°C, a perda total das estruturas e o consequente aumento de 10 metros no nível do mar levariam 10 mil anos para acontecer. Caso a temperatura suba 2°C, a estimativa cai para mil anos. Nossa única esperança para manter a Terra e a civilização humana minimamente estáveis é largar de vez os combustíveis fósseis até 2050. Só assim teremos tempo de nos adaptar para as mudanças que virão.


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