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Ela voltará à selva, apesar do jacaré

Era meio-dia de 30 de dezembro de 2009 quando o maior predador da Amazônia, o jacaré-açú, atacou a bióloga paulista Deise Nishimura*, 25, que limpava peixe na varanda de sua casa flutuante no lago Mamirauá. Não morreu por pouco, mas perdeu a perna direita. Ainda assim, Deise não desistiu da ciência. Ela, que estudava o comportamento de botos-vermelhos, não vê a hora de voltar à pesquisa na selva.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h31 - Publicado em 28 nov 2010, 22h00

William Vieira

Como você foi atacada por um jacaré de 6 metros?
Eu estava sentada limpando peixe para o almoço quando o vi saltar mais de 1 metro e morder minha perna direita. Fomos para o fundo do lago e ele começou a girar, girar, mas eu não sentia dor nenhuma, por causa da adrenalina. Nossa, dava para pensar em muita coisa, pois o tempo lá tem outra dimensão.

E como você sobreviveu?
Eu me lembrei de ter visto em um documentário que a parte mais sensível do tubarão é o nariz. Enfiei os dedos em dois buracos, que deviam ser os olhos, e apertei com toda força. Ele me largou – só não sei se por isso ou se porque já tinha levado o que queria, a minha perna. Nadei então uns 4 metros, subi a rampa da casa me arrastando e chamei ajuda pelo rádio. O pessoal da reserva veio, fez um torniquete e me levou ao hospital.

Depois do ataque, como sua vida mudou?
Eu ainda estou me recuperando, fazendo fisioterapia. Passei 16 dias no hospital. Coloquei uma prótese, mas ainda estamos fazendo a adaptação. Talvez tenha de fazer mais uma cirurgia. Então minha pesquisa parou por ali, porque preciso me dedicar à recuperação.

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É mais arriscado para um boto ou para uma pessoa viver nas mesmas águas que o jacaré-açu?
Embora eles dividam as mesmas águas, o boto é rápido demais para ser pego por um jacaré. A não ser que haja um incidente. O jacaré come peixes, tartarugas, às vezes aves. Mas é um animal oportunista: se vê uma oportunidade, ele ataca, se aproveita mesmo da situação. Se um boto estiver machucado, vai pegá-lo.

Mas você é contra a caça do animal?
Eu sou contra a caça indiscriminada do jacaré, mas sou a favor da caça manejada. Naquela região há jacarés demais. Caçar não é um risco tão grande para o ecossistema, mas o bicho é para a população ribeirinha.

Você pretende voltar para a selva? Continuar a pesquisa de onde parou?
Eu não sei quando, mas quero voltar para lá o mais rápido possível. Sempre foi meu sonho estudar cetáceos [ordem de mamíferos a que pertencem os botos e as baleias]. Aí surgiu essa oportunidade na Amazônia e eu fui. Desde o momento que cheguei, me senti em casa. Acordava às 5h30, saía de barco e passava 7 horas fazendo avistagem. De volta em casa, trabalhava no computador com os dados que havia coletado. Eu nunca havia me sentido tão à vontade na cidade. A única coisa que me fez pensar em desistir foram os mosquitos. Era uma média de 15 picadas por dia. Mas me adaptei bem, pois eu gostava bastante da rotina. Então pretendo voltar assim que me recuperar totalmente.

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Não passou pela sua cabeça estudar jacarés?
Depois do que aconteceu, sim. Fiquei bastante interessada em estudar esses bichos tão fascinantes. Vamos ver.

*Deise Nishimura volta pela primeira vez à Amazônia em novembro como palestrante do TEDxAmazônia, evento para disseminar as melhores ideias. A SUPER apoia o TEDxAmazônia. Saiba mais em https://www.tedxamazonia.com.br.

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