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Ele vai voltar a andar?

Cientistas trabalham duro para descobrir como se regeneram células nervosas - aí pode estar a chave da cura de pessoas como Christopher Reeve.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h48 - Publicado em 31 jul 2003, 22h00

Tania Menai

Foi na tarde de 27 de maio de 1995 que o ator americano Chirstopher Reeve provou ser mesmo o Super-Homem. Depois de cair do cavalo e ferir a medula espinhal, Reeve só foi acordar no hospital com a notícia de que dali em diante nunca mais moveria nenhuma parte do corpo abaixo dos ombros. Sua lesão foi total: a medula espinhal foi transeccionada na segunda vértebra cervical, ou C-2. Em seu segundo livro, Superar o Impossível (Editora Campus), ele conta que iria desistir da vida não fosse sua esposa, Dana, pedir-lhe que esperasse pelo menos dois anos. Mas desde outubro do ano 2000 Reeve ganhou algumas sensações e movimentos. Ele é capaz de sentir a ponta de uma agulha em algumas partes do corpo e mover certas juntas voluntariamente e outras em exercícios de resistência. Mas nada disso foi milagre. Reeve, que é pai de dois filhos, mantém em casa um regime de exercícios criados especialmente para ele.

Ele não recuperou nenhuma função motora, tampouco controla a bexiga ou a evacuação, mas sua melhora, mesmo que lenta, faz com que ele se sinta melhor perante a vida. Um de seus médicos, John McDonald, da Universidade Washington, diz que a recuperação de Reeve é incerta, mas pesquisas estão sendo feitas para saber se exercícios a longo prazo reanimariam o sistema nervoso. McDonald acredita que pacientes com esse trauma podem ter alguma reabilitação com exercícios físicos, que fortalecem os músculos e o coração, além de fazer com que as células nervosas ainda não danificadas continuem trabalhando e estimulando o nascimento de novas células.

Enquanto isso, nos laboratórios da Universidade de Yale, o médico Stephen Strittmatter mergulha em pesquisas com animais na busca de formas de regeneração de axônios, aqueles fios condutores que saem das células nervosas e dizem para o nosso corpo o que fazer – como levantar a perna, fazer xixi ou coçar as costas. “Hoje não existe tratamento algum. Ninguém até hoje foi tratado para promover o crescimento do axônio. E não há nada em uso clínico capaz de fazê-lo”, diz ele à Super, lembrando que a esperança é que os diversos experimentos com animais – que parecem estar sendo bem-sucedidos – irão nos levar a algum tipo de tratamento humano. Strittmatter afirma que, independentemente de suas pesquisas, a maior parte dos pacientes apresenta uma leve recuperação no período de seis meses a um ano. Numa escala de zero a cinco, a média é um. O que de fato não apresenta melhora nesse período de tempo é a capacidade de caminhar, sentir, controlar a incontinência ou a dor.

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O crescimento de axônios recuperaria essas funções. Inclusive naqueles pacientes que tiveram trauma na parte superior da medula e não podem respirar sozinhos.

A boa notícia, no entanto, é que se compararmos a situação de hoje com a de 20 anos atrás o cuidado com portadores de doenças neurológicas está bem melhor. Há 20 anos, um paciente de trauma raquimedular, como Reeve, logo morreria de infecções causadas por incontinência urinária. Hoje existem antibióticos, cuidados neurológicos e a medicina já tem como lidar com a gama de efeitos colaterais que inclui até a pneumonia. Isso faz com que a expectativa de vida desses pacientes seja quase normal. Por outro lado, nestes mesmos 20 anos não houve mudanças no que diz respeito à maneira como tratamos do sistema nervoso em si. Mas há esperança de que daqui a 20 anos, ou possivelmente antes, tenhamos formas de fazer os axônios se regenerarem e mudarem o cenário. “As pesquisas feitas com animais nos últimos anos têm sugerido que isso talvez seja possível”, diz Strittmatter. E, se essas pesquisas obtiverem bons resultados em humanos, poderá haver tratamentos que façam com que o sistema nervoso seja reparado.

CAMINHO INTERROMPIDO

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O uso de células-tronco é uma das possibilidades ainda sob investigação. Dentre os vários ferimentos do sistema nervoso, muitos matam nossos neurônios. Nesses casos, o problema não é só fazer com que os axônios se reconectem, mas substituir os neurônios mortos. No caso do trauma raquimedular, muitos neurônios morrem. Mas boa parte do problema é causado pelas conexões que são cortadas na espinha dorsal. Quando há uma lesão na parte central da espinha, as células nervosas que vão para as pernas, situadas na parte inferior da coluna, não são atingidas. E os neurônios no cérebro que enviam sinais elétricos aos músculos também permanecem intactos. Os sinais só não chegam porque os axônios que vão do cérebro à parte inferior da espinha dorsal foram cortados no meio do caminho.

“As células-tronco podem ter uma grande função numa série de doenças neurológicas, substituindo os neurônios mortos. Mas esse não é o problema do trauma raquimedular”, diz Strittmatter. “O desafio é fazer axônios de neurônios crescerem.” Como? Quando as células-tronco foram colocadas em espinhas dorsais e ajudaram animais, em vez de produzir novos neurônios, elas se tornaram células-suporte e ajudaram axônios a crescerem novamente de uma forma um pouco melhor. Então, de certa forma, elas promoveram a regeneração de axônios de células já existentes. Outra forma seria, mesmo se tivermos neurônios mortos no cérebro e na espinha dorsal, colocarmos alguns extras em ambas as partes, por meio de células-tronco. Ela poderá formar algumas pontes, ou pedaços extras de tecido nervoso que irão se conectar por meio de caminhos não-convencionais. Isso não seria uma regeneração propriamente dita, mas uma espécie de solução improvisada.

“Até em animais, os efeitos das células-tronco em trauma raquimedular não são muito bem caracterizados – esses casos são muito diferentes de outras doenças como Parkinson, diabetes ou doenças cardíacas, em que células-tronco estão substituindo células mortas”, diz Strittmatter.

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O PODER DO EXERCÍCIO

Não há dúvidas de que a fisioterapia melhora a qualidade de vida, mesmo quando não há recuperação neurológica. Mas há recentes evidências – incluindo o caso de Christopher Reeve – de que a fisioterapia pode promover alguma regeneração no sistema nervoso, mesmo que não haja nenhum tratamento médico. O problema é que ainda não se sabe o quão eficiente essa tática é. Até os especialistas não sabem bem a causa da pequena melhora de Reeve. Mas eles têm uma pista: alguns testes em animais têm nos mostrado que treinamentos promovem mudanças no sistema nervoso que permitem o melhor funcionamento da espinha dorsal. Como e por quê? Ainda não há resposta. Mas a pesquisa avança rapidamente para obtê-la e fazer com que, daqui a 20 anos ou até menos, pessoas como Reeve possam ter a esperança de poder andar novamente.

 

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“Pedalo três vezes por semana”

Em entrevista exclusiva, Christopher Reeve fala de sua espantosa recuperação

Desde que ficou paralítico, após um acidente em uma competição de hipismo, Christopher Reeve tem-se dedicado com garra à própria recuperação, mas não só. Ele criou a Fundação Christopher Reeve, que arrecada fundos para pesquisas e apóia pessoas em condição semelhante à do ator. No caso de Reeve, o trabalho de recuperação envolve uma rotina árdua de exercícios. Estímulos elétricos induzem suas pernas a pedalar em uma bicicleta ergométrica especial – o que, segundo seu médico, pode estimular as conexões nervosas entre o cérebro e os membros inferiores. O ator concedeu à Super, por e-mail, esta entrevista:

Como foram os seus primeiros dias depois do acidente?

Quando me feri, em maio de 1995, foi preciso reconectar a base do meu crânio à minha espinha. Disseram que eu teria apenas 50% de chances de sobreviver. Depois soube que, além de nunca mais caminhar, eu jamais iria mexer nada do ombro para baixo.

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Mas a sua recuperação tem superado as expectativas, certo?

Tive sorte de poder exercitar-me na época em que passei pelo centro de reabilitação e continuar a fazê-lo depois que voltei para casa. Tenho conseguido manter a massa muscular de quase todo o meu corpo, especialmente pernas, braços e abdômen.

Como?

Isso é feito por meio de eletrodos nos músculos. Três vezes por semana, me exercito numa bicicleta especial, que posso pedalar quando meus músculos são estimulados – faço 13 quilômetros em 45 minutos. Ainda vou à piscina uma vez por semana. É a experiência mais gratificante que existe. Adoro a sensação de flutuar, sou capaz de abrir e fechar meus braços, dar pequenos chutes e empurrões contra a beira da piscina. Essa habilidade veio com o tempo. No começo, os exercícios simplesmente me faziam sentir melhor e ajudavam a evitar complicações. Depois, de repente, em setembro de 2001, descobri que podia mover o dedo mínimo da mão esquerda. Aconteceu inesperadamente, mas me deu motivação para descobrir o que sou capaz de fazer. É essa a filosofia que me guia hoje.

Como o senhor e a sua esposa, Dana, estão envolvidos com a Fundação Christopher Reeve?

Temos 43 empregados trabalhando em Nova York, New Jersey e Washington. Além de identificar e financiar os melhores pesquisadores, temos interesse em melhorar a qualidade da reabilitação para as pessoas que passaram a sofrer de paralisia. Ainda usamos grande parte do dinheiro que recebemos para dar a essas pessoas acesso a recreação, trabalho e muito mais. Há dez anos nenhum de nós poderia imaginar que estaríamos fazendo esse trabalho hoje. Mas ele nos faz nos sentir bem sobre a nossa própria situação, sabendo que estamos fazendo o melhor para ajudar os outros.

 

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