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Esqueça o Everest: os primeiros humanos montanhistas eram da Etiópia

Cientistas encontram os vestígios mais antigos de humanos vivendo em altitudes extremas — há 47 mil anos atrás.

Por Maria Clara Rossini
13 ago 2019, 15h04

Se já é difícil escalar uma montanha hoje em dia, com o auxílio de ferramentas e equipamentos, imagine fazer isso 50 mil anos atrás. Uma pesquisa publicada na revista Science descobriu ossos, ferramentas e fogueiras nas Montanhas Bale, na Etiópia. Todos esses objetos são vestígios de que nossos ancestrais viveram por lá. E mais: os resquícios datam de até 47 mil anos.

As evidências foram encontradas a mais de 3 mil metros acima do nível do mar. O local é quase tão alto quanto o Monte Fuji, no Japão. Segundo a datação de carbono, os objetos têm de 31 a 47 mil anos. Esses são os vestígios mais antigos que mostram a moradia de humanos em grandes altitudes. 

Até então, acreditava-se que os locais mais altos fossem os últimos a ser ocupados por humanos. A hipótese faz sentido: quanto maior a altitude, menos oxigênio e menos comida. No entanto, novas descobertas têm colocado essa teoria à prova.

Em 2018, pesquisadores encontraram lâminas e artefatos em altas altitudes no Tibete, a mais de 4 mil metros acima do nível do mar. Os objetos são de 30 a 40 mil anos atrás, só um pouco mais recentes que os da Etiópia.

Em entrevista ao New York Times, o arqueólogo Götz Ossendorf, líder do novo estudo, disse que poucas pesquisas haviam sido feitas em altas altitudes até então. A maioria dos pesquisadores foca em sítios arqueológicos mais baixos. “Nossa equipe foi a primeira a chegar em lugares tão altos”, diz ele.

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Há evidências de que outros humanos pré-históricos estiveram em regiões altas, mas morar por lá é bem mais complicado. O novo estudo, no entanto, mostra que os etiopianos ocuparam a região rochosa durante pelo menos 16 mil anos.

Em altitudes tão elevadas, devido ao frio e ao ar rarefeito, é difícil fazer qualquer coisa crescer. Os ex-moradores das montanhas comiam uma espécie de rato gigante que pesava aproximadamente dois quilos. Esse animal era abundante e fácil de caçar, se tornando a fonte perfeita de alimento.

Quanto à água, os hominídeos provavelmente aproveitavam o gelo derretido do topo das montanhas. Não muito longe de lá também havia uma reserva de obsidiana, uma rocha adequada para produzir armas e instrumentos.

Os pesquisadores vão continuar a escavação na área para tentar encontrar resquícios de crânios ou ossos humanos — tudo para ter acesso ao DNA deles. Eles pretendem verificar a existência de adaptações evolutivas que fizeram os etiopianos sobreviverem lá em cima.

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