Esquerda,volver
Observação de 1 milhão de galáxias indica que o universo pode ser canhoto. E o que isso quer dizer? Ninguém sabe direito (muito menos esquerdo)
Era consenso entre os astrônomos que as galáxias espirais se dividiam em dois grupos:cerca de metade giraria no sentido horário e o resto no sentido anti-horário. Pois um estudo recente sugere que não é bem assim. O relatório preliminar do projeto Galaxy Zoo de mapeamento espacial indica que a expressiva maioria das galáxias espirais, incluindo a nossa Via Láctea, é canhota – do ponto de vista de quem observa da Terra, elas giram para a esquerda, no sentido anti-horário. A porcentagem só será divulgada no relatório final do projeto, a ser publicado no início de 2008.
O Galaxy Zoo é uma iniciativa de astrônomos das Universidades de Oxford e Portsmouth, na Inglaterra, e Johns Hopkins, nos EUA. Eles convidaram gente com ou sem curso de astronomia para analisar seqüências de fotos das galáxias na internet. “Os pesquisadores leigos são melhores do que astrônomos para fazer esse tipo de identificação. Eles não se apegam a detalhes pouco importantes ”, explica um dos coordenadores do projeto, o britânico Robert Nichol, da Universidade Portsmouth. O projeto recrutou até gente do Brasil. “Um dos trabalhos que meus alunos fizeram no 2 ºsemestre foi participar do Galaxy Zoo ”, conta o astrônomo Laerte Sodré Júnior, da USP.
A missão dos 110 mil voluntários era olhar para as galáxias e indicar duas coisas: se elas eram elípticas ou espirais e, quando espirais, para que lado giravam. Em novembro, toda a base de dados, cerca de 1 milhão de galáxias, tinha sido mapeada – cada uma analisada por 30 pessoas ou mais.
Os responsáveis pelo projeto ainda não sabem dizer direito por que boa parte das galáxias espirais rodam para a esquerda – nem o que isso significa. “Uma possibilidade é que podem existir estruturas maiores do que galáxias, e tão gigantescas que não conseguimos enxergá-las. Nesse caso, o que identificamos no estudo pode ser um esboço da forma como as galáxias são distribuídas dentro dessas megaestruturas ”, especula o astrônomo inglês Christopher Lintott, da Universidade de Oxford.