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Esta é a foto mais próxima já tirada do Sol

E ela revela um fenômeno totalmente novo: a estrela está repleta de mini-erupções de plasma de origem misteriosa, que os cientistas apelidaram "fogueiras".

Por Bruno Carbinatto
16 jul 2020, 18h44

A Nasa e a ESA (Agência Espacial Europeia) liberaram, nesta quinta-feira (16), as primeiras fotos enviadas pela Solar Orbiter, a sonda lançada para estudar nosso Sol bem de perto. As imagens, que são os registros mais próximos já feitos da estrela, revelaram detalhes impressionantes da superfície solar, e incluem um novo mistério para intrigar cientistas de todo o mundo: a presença de mini erupções de plasma em todo o Sol – apelidadas pelos cientistas de “fogueiras”.

“Estas são apenas as primeiras imagens, e já podemos observar fenômenos novos e interessantes”, disse, em comunicado, Daniel Müller, cientista da Agência Espacial Europeia que lidera a equipe da Solar Orbiter. “Não esperávamos resultados tão bons ainda no início [da missão].”

Essas “fogueiras” parecem ser versões em miniatura das erupções solares, as grandes explosões causadas por mudanças no campo magnético do Sol que liberam altas quantidades de energia. Por serem bastante violentas, conseguimos observar e estudar essas erupções daqui da Terra, mas é a primeira vez que descobrimos a existência dessas versões menores – que são pelo menos um milhão de vezes menos potentes que suas versões gigantes. “Nas imagens, elas estão literalmente em todos os lugares que olhamos”, diz David Berghmans, cientista do Observatório Real da Bélgica e um dos pesquisadores do projeto.

Essa é a foto mais próxima já tirada do Sol
Na série de fotos, as “fogueiras” estão destacadas com setas. (SOLAR ORBITER/EUI TEAM (ESA & NASA)/NASA)

Ainda não está claro o que causa essas mini-explosões, nem o porquê de elas acontecerem tão frequentemente em tantos locais diferentes. Erupções solares (as grandes) acontecem em períodos e locais de maior atividade magnética do Sol, que resultam em uma grande liberação de energia. Essas “fogueiras”, porém, não parecem ocorrer em locais com grande atividade magnética, o que intrigou os cientistas. Além disso, o Sol passa por um ciclo de 11 anos que contém períodos de maior e menor atividade magnética – e estamos vivendo um período de mínimo solar, em que as erupções deveriam ser bastante discretas e raras. Isso, porém, não parece afetar as “fogueiras”, que permaneceram constantes em todo o período e toda superfície observada.

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ma das possibilidades é que as “fogueiras” podem ajudar a explicar um outro mistério sobre o nosso Sol: a temperatura de sua atmosfera. A chamada coroa solar, que nada mais é que a camada mais externa da atmosfera da estrela (ou seja, como se fosse o ‘céu’ do Sol) é muito mais quente que sua superfície: a temperatura da coroa pode atingir 1,1 milhões de graus Celsius, enquanto a da superfície chega a “míseros” 6 mil graus. Talvez essas fogueiras sejam um mecanismo que, em conjunto, esteja transferindo calor para aquecer a atmosfera – o que explicaria porque ela é tão mais quente.

“Essas fogueiras são totalmente insignificantes por si só, mas, somando seus efeitos em todo o Sol, elas podem ser a contribuição dominante para o aquecimento da coroa solar”, explica Frédéric Auchère, do Instituto de Astrofísica Espacial (IAS), da França, que também integra a equipe. Felizmente, a sonda carrega um instrumento capaz de medir a temperatura dessas fogueiras, o que gerará dados importantes para analisar se elas são realmente responsáveis por aquecer a coroa solar.

O satélite Solar Orbiter foi lançado em fevereiro de 2020 e está atualmente orbitando nossa estrela a “apenas” 77 milhões de quilômetros de distância, mais ou menos a metade do caminho entre a Terra e o Sol, mas pode chegar a ficar até 42 milhões de quilômetros, ou seja, 1/3 da distância total. A sonda está carregada com mais de 10 equipamentos de medição e, além das novidades que já está revelando, pretende fotografar os polos da estrela – que nunca foram vistos diretamente por nenhum outro instrumento.

A sonda também carrega equipamentos cujo objetivo não é estudar o Sol em si, mas o ambiente ao redor da própria espaçonave. Um deles, por exemplo, vai analisar o vento solar é liberado pela estrela – uma série de partículas lançadas pela coroa do Sol no espaço que chegam, também, à Terra. Além das fotos, os dados liberados hoje incluem também uma análise da composição do vento solar que passou pela nave nesses últimos tempos, incluindo íons de carbono, oxigênio, silício, ferro e outros.

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