Fóssil “estranho” de anquilossauro mais antigo conhecido intriga paleontólogos
Encontrada na Cordilheira do Atlas, em Marrocos, essa costela de anquilossauro tem 168 milhões de anos e possui espinhos de queratina fundidos ao osso, uma característica inédita no registro fóssil.
Um fóssil encontrado na cordilheira do Atlas, em Marrocos, pertenceu ao mais antigo – e estranho – anquilossauro descoberto até agora. As costelas desse dino são tão incomuns que os paleontólogos que se dedicaram ao seu estudo pensaram, a princípio, que poderiam ser falsificações: há uma série de espinhos de queratina (como os chifres de um rinoceronte) se projetando a partir dos ossos.
Sabe-se que os anquilossauros eram herbívoros e tinham o corpo envolto por uma carcaça bastante rígida, protegida por extremidades afiadas. Eram tanques de guerra pré-históricos movidos a mato e blindados contra carnívoros. Os fósseis encontrados até hoje exibiam pontas incorporadas apenas à pele do animal. Este anquilossairo é o primeiro a apresentá-las fundidas ao esqueleto.
Os anquilossauros são conhecidos principalmente por meio de fósseis encontrados nos Estados Unidos e Canadá, que datam de 74 a 67 milhões de anos atrás, no final do período Cretáceo – logo antes do célebre meteoro cair. O fóssil descrito agora foi o primeiro encontrado na África, e é o mais antigo conhecido, com 168 milhões de anos de idade.
Segundo Susannah Maidment, paleontóloga do Museu de História Natural de Londres e autora principal do estudo, o animal pode ter sido um dos primeiros anquilossauros existentes e ocupado as raízes da árvore filogenética de seu grupo. Outra possibilidade é que ele faça parte de uma linhagem inteiramente nova. A espécie foi batizada de Spicomellus afer.
O material foi encontrado no mesmo lugar onde pesquisadores do Museu descobriram recentemente o fóssil de estegossauro mais antigo conhecido. Por isso, a princípio, houve a suspeita de que este fóssil pudesse ser parte de um estegossauro também. Mas as investigações seguintes encontraram características exclusivas dos anquilossauros.
A suspeita de que o fóssil seria adulterado, movida pelo caráter incomum das pontas, também não durou muito tempo – os cientistas perceberam por tomografias computadorizadas que, por mais estranho que fosse, a costela veio mesmo com os espetos de fábrica.
A nova descoberta pode ajudar os paleontólogos a entender melhor a evolução dos dinossauros, a distribuição geográfica dos anquilossauros e sua possível convivência com seus parentes estegossauros.
O fóssil, que originalmente pertencia a um colecionador particular, agora faz parte do acervo do Museu de História Natural e será objeto de outros estudos daqui para frente. Segundo Susannah, a ideia é voltar a Marrocos, no futuro, para trabalhar em conjunto com paleontólogos do local.