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Fungo que devasta plantações de banana chega à América — e pode atingir o Brasil

Após décadas restrita a outras partes do mundo, doença fatal para bananeiras é detectada na Colômbia e corre o risco de se alastrar pelo continente americano

Por A. J. Oliveira
Atualizado em 22 ago 2019, 08h53 - Publicado em 22 ago 2019, 08h53

Algo que os especialistas temiam aconteceu: um tipo de fungo que arruina algumas das mais cultivadas plantações de banana deu as caras nas Américas. O Fusarium TR4 foi relatado pela primeira vez nos anos 90 no sudeste asiático. Em pouco mais de 20 anos, se espalhou por países da Ásia, da Oceania, do Oriente Médio e da África. Neste mês, autoridades da Colômbia confirmaram que o fungo contaminou 175 hectares no país.

Em junho, quatro fazendas no norte da Colômbia foram colocadas em quarentena com suspeita de conter o temido fungo, que se aloja no solo. Exames de laboratório confirmaram se tratar do parasita. No último dia 8, o governo colombiano declarou situação de emergência após a primeira confirmação de que a “raça tropical” (TR, em inglês) 4 do fungo Fusarium chegou em terras americanas. É provável que ele tenha se alastrado para além da zona de contenção.

Se isso ocorrer, a consequência poderá ser uma verdadeira hecatombe para a produção mundial de bananas, da qual a América Central e a América do Sul são protagonistas. E o Brasil também corre risco.

O fungo é bastante oportunista e extremamente duro de matar. Sua morada habitual é a terra, não a bananeira, mas ele entra facilmente por ferimentos na raíz da planta. Uma vez lá dentro, logo coloniza o rizoma (caule subterrâneo da bananeira que cresce para o lado) e domina o pseudocaule (a parte que fica para cima do solo e dá os cachos) através dos feixes do xilema, por onde passa a seiva.

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Quando a doença chega a esse ponto, a planta já está condenada. “Com o colapso desses feixes, a planta deixa de receber água e nutrientes em suas folhas”, explica Fernando Haddad, agrônomo da Embrapa (e homônimo do ex-prefeito de São Paulo). Haddad atua com fitopatologia, ciência que estuda as doenças das plantas, e é especialista nos males que acometem as bananeiras.

Ele trabalha desde 2010 na Embrapa Mandioca e Fruticultura, unidade sediada em Cruz das Almas (BA). “O sintoma típico da doença é o amarelecimento das bordas das folhas para as nervuras, que posteriormente murcham”, afirma. “No fim, elas ficam como um guarda-chuva fechado.” Fungicidas não matam o parasita; o único jeito é tentar evitar que ele se alastre, isolando as áreas infectadas. 

Há muitas formas pelas quais o Fusarium TR4 pode se dispersar pelos bananais: por meio de insetos e plantas daninhas, pelo solo e pela água, ou pela ação do próprio homem, em maquinários e ferramentas. Por isso é tão difícil evitar que ele se espalhe. Apesar de matar a bananeira, o parasita não infecta as bananas — portanto não há motivo para pânico e nem para cortá-las da dieta. 

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Essa ameaça à produção de bananas mais parece um déjà-vu. É que, antes da “raça 4”, a “raça 1” do fungo já provocou grande estrago no mundo. Reportada pela primeira vez na Austrália em 1876, causou epidemias em plantações no Panamá e na Costa Rica, e ganhou o apelido de Mal do Panamá. “A doença foi devastadora entre 1900 e 1960, destruindo mais de 40 mil hectares na América do Sul e na América Central”, explica Haddad. “Obrigou a mudança da variedade plantada na época, que era a Gros Michel, para bananas do subgrupo Cavendish.”

O mais famoso exemplo do grupo no Brasil é a banana nanica, naturalmente resistente à raça 1 do Fusarium. O Mal do Panamá entrou no país na década de 1930 no estado de São Paulo, atingindo em cheio as plantações de banana maçã — o cultivar mais popular do fruto na época. A estratégia da indústria foi substituir as bananas Gros Michel, que eram o carro-chefe das exportações, pelas Cavendish. No Brasil não foi diferente.

Foi aí que variedades como prata e nanica tornaram-se dominantes. Por três décadas, ficou tudo bem. Até surgir a raça 4, que ataca justamente as Cavendish. Do sudeste asiático, em 1996 ela chegou na China; em 1997, na Austrália; em 2003, em Taiwan; em 2008, nas Filipinas; em 2012, na Jordânia; em 2013, em Moçambique. “Aí foi realmente um grande alerta para todos, quando foi para o continente africano”, diz Haddad. No Paquistão e no Líbano, em 2014; no Vietnã e no Laos; em 2017; em Israel e Mianmar, em 2018.

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Agora, a raça tropical 4 do Fusarium chegou às Américas. “A preocupação é que o que ocorreu com a Gros Michel no passado ocorra com a Cavendish agora”, afirma o fitopatologista. Isso pode obrigar a indústria exportadora de bananas a buscar variedades alternativas e mudar, de novo, seu carro-chefe. 

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