Grama começa a crescer no Everest – e a culpa é do aquecimento global
A vegetação está avançando em locais cada vez mais altos – e ameaçando alterar o fluxo de água dos rios que abastecem a Índia.
![](https://super.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/01/punnawit-suwuttananun_gettyimages_everest_grama.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
A neve está dando lugar às plantas no Himalaia. Um estudo feito pela Universidade de Exeter, na Inglaterra, mostra o aumento da vegetação ao redor do Monte Everest entre 1993 e 2018.
As imagens abaixo foram feitas pelos satélites Landsat, da NASA. A área em azul é a superfície do Monte Everest com vegetação em 1993, enquanto a parte vermelha mostra o quanto ela aumentou até 2017.
![Karen Anderson_University of Exeter_reproducao_everest_grama](https://super.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/01/karen-anderson_university-of-exeter.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Quanto mais alto o local, menos vegetação ele abriga. Isso acontece, obviamente, porque as plantas não conseguem crescer em ambientes com temperaturas extremamente baixas. A pesquisa avaliou a presença de grama e pequenos arbustos nas maiores altitudes que ainda permitem o crescimento de vegetação, entre quatro e seis mil metros acima do nível do mar (lembrando que o Everest tem quase nove mil metros de altura). A partir daí, o espaço é dominado por rochas e neve.
Acontece que esse limite vem aumentando. A vegetação está crescendo em locais cada vez mais altos, que deveriam ser frios demais para abriga-la. A pesquisa descreve que houve um aumento “pequeno, mas significativo” da área coberta pela vegetação.
Segundo os pesquisadores, esse resultado condiz com outros estudos sobre mudanças climáticas. O Himalaia é umas das regiões que mais aquece no planeta. A taxa de derretimento da neve dobrou desde os anos 2000, e cientistas estimam que um terço de todo o gelo da cordilheira desaparecerá ainda neste século.
O Himalaia é uma grande fonte de água doce. O derretimento gradual das geleiras abastece os dez maiores rios da Ásia, como o Ganges, na Índia. Mais de 1,4 bilhão de pessoas dependem disso fornecimento de água e energia elétrica (por meio de usinas hidrelétricas).
Ainda não se sabe ao certo qual é o impacto direto do crescimento das plantas na região, mas o fornecimento de água pode ser o primeiro afetado. Segundo a pesquisadora Karen Anderson, que liderou o estudo, as plantas podem atrapalhar a trajetória da neve ou fazer com que ela derreta mais rápido que o normal, resultando em alagamentos.
As plantas em excesso podem perpetuar um ciclo de mudança de temperatura na região, seja para mais ou menos frio. Um estudo feito no Tibet demostrou que a transpiração das folhas ajuda a resfriar a região. No entanto, outros estudos apontam que a absorção de luz pela planta também pode aquecer o solo.
A pesquisadora aponta a importância de direcionar os estudos nessa região para responder a esses e outros dilemas. “Não sabemos tanto sobre essa área. Precisamos direcionar esforços e atenção para o Himalaia por ser uma fonte importante de fornecimento de água”, diz ela ao The Guardian.