Homo florensiensis: Evolução para baixo
Os pequenos hominídeosque desafiam as teoriasda origem do homem
Alexandre Versignassi
Acredita em duendes? Se você vivesse há 18 mil anos, talvez acreditasse: nessa época existiam homens com um metro de altura e uma cabeça minúscula, que cabe na palma da mão. No mês passado, um grupo de paleoantropólogos encontrou o esqueleto de uma nova espécie de hominídeo na ilha de Flores, Indonésia. O ser foi batizado de Homo florensiensis, ou “hobbit” para os íntimos. E pegou a comunidade científica de surpresa: provou da noite para o dia que a evolução do homem não é uma estrada rumo a cérebros maiores e corpos mais fortes. O hobbit, afinal, é uma versão encolhida do Homo erectus, que surgiu a 1,6 milhão de anos. Mesmo antigo desse jeito, o H. erectus chegava a 1,70 metro e tinha um cérebro razoavelmente desenvolvido, duas vezes maior que o do H. florensiensis. Como pode então ter surgido o nosso hobbit? O fato é que seu corpo fez o que o de outros mamíferos fazem quando evoluem em uma ilha: encolhem. Como há pouca comida e a capacidade de atravessar grandes distâncias para consegui-la não é vantagem num ambiente desses, a tendência é a miniaturização. O que ninguém esperava é que isso pudesse acontecer com uma espécie tão próxima da gente quanto o H. erectus.
A descoberta revela ainda mais coisas. Apesar de ter um cérebro tão pequeno quanto o de um chimpanzé, o H. florensiensis deixou pistas de que era inteligente e conseguia construir ferramentas. Pode até ter navegado por conta própria até a ilha. “Nunca saberemos se ele fez mesmo isso. Como a região tem terremotos, é possível que tenha aparecido uma ponte natural de terra por um curto período de tempo. Mas a hipótese da ponte é pouco provável, já que o número de animais na ilha é pequeno”, diz o paleoantropólogo australiano Peter Brown, do grupo de descobridores. Para ele, as buscas por outros hominídios estão só no começo: “Acho que várias outras vão ser encontradas na Ásia, principalmente nas ilhas”. Seja como for, o hobbit já deixou um legado duplo: mostrou que somos tão vulneráveis aos truques da evolução quanto qualquer bicho, e que isso não nos torna menos humanos.
H. Erectus
Época: 1,6 milhão a 250 mil anos atrás
Tamanho: 1,70 metro
Região: Europa, Ásia e África
Crânio: 750 a 1225 cm3
H. Neanderthalensis
Época: 200 mil a 30 mil anos atrás
Tamanho: 1,65 metro
Região: Europa e oeste da Ásia
Crânio: 1200 a 1740 cm3
H. Florensiensis
Época: 100 mil a 12 mil anos atrás
Tamanho: 1 metro
Região: Ilhas da Indonésia
Crânio: 380 cm3
H. Sapiens
Época: de 400 mil anos atrás até hoje
Tamanho: 1,75 metro
Região: Todos os continentes
Crânio: mil a 2 mil cm3