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No Brasil, pesquisadores encontram espécie de morcego desaparecida há 100 anos

O Histiotus alienus foi visto em 1916, em Santa Catarina – e nunca mais. Agora, cientistas anunciaram a descoberta de um segundo espécime do mamífero.

Por Leo Caparroz
23 nov 2023, 19h08

Em uma viagem a Santa Catarina em 1916, o naturalista inglês Michael Rogers Oldfield Thomas encontrou um morcego pequenino, com cerca de 12 centímetros de tamanho. Essa foi a primeira (e única) vez que a espécie Histiotus alienus foi encontrada. Depois de ser capturado em Joinville, norte do estado, Thomas catalogou seu corpo no Museu de História Natural de Londres.

102 anos depois, o morceguinho voltou a dar as caras. Em 2018, pesquisadores brasileiros no Paraná capturaram um macho da espécie. Mas o registro oficial só foi publicado no último mês de setembro, no periódico ZooKeys.

Os pesquisadores fazem parte de um projeto que documenta mamíferos de duas unidades de conservação paranaenses, reunindo cientistas da ​Universidade Federal do Paraná (UFPR), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele também conta com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O morcego foi interceptado por uma rede instalada no Refúgio de Vida Silvestre dos Campos de Palmas, na cidade de Palmas, no sudoeste do Paraná. A unidade de conservação federal é gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Desde o encontro inicial com o morceguinho até a definitiva comprovação da sua espécie foi uma longa jornada. O mamífero já chamou atenção logo de cara pelas suas orelhinhas em formato de vela e seu corpo com pelos amarronzados – essas características são sinais claros de um representante do gênero Histiotus.

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Mas ainda estava faltando definir qual a espécie do morcego – o gênero Histiotus contém 11 delas. O palpite inicial dos pesquisadores era de que se tratava da Histiotus bonariensis ou da Histiotus montanus.

Só que algumas coisas não batiam. Uma característica marcante do Histiotus alienus são suas orelhas: menores do que a dos parentes, triangulares e conectadas por uma membrana. Ele também tem pelos avermelhados e compridos no dorso, enquanto suas costas têm pelos escuros.

Por causa dessa dúvida, o morcego paranaense teve de ser comparado com exemplares de outras espécies. Finalmente, os cientistas analisaram o único Histiotus alienus até então (a representação que está lá no acervo inglês). Aí não houve dúvidas: tratava-se de um segundo exemplar da espécie.

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Os pesquisadores ainda não sabem porque o sumido demorou tanto tempo para reaparecer. “Ainda temos muito a investigar. Pode ser uma espécie naturalmente rara. Pode ser uma espécie que sofreu muito com o impacto da devastação da Mata Atlântica, tanto no passado quanto no presente. Ou pode se tratar de uma espécie que é difícil de ser coletada com técnicas tradicionais”, conta Liliani Marilia Tiepolo, coordenadora do projeto de pesquisa e professora do curso de Ciências Ambientais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), à Ciência UFPR.

O grau de conservação da espécie passou por avaliações iniciais. Contudo, especialistas em morcegos já acreditam que ela corra risco severo de extinção e precise ser protegida. “A comunidade de especialistas que esteve presente nas oficinas de avaliação foi unânime em considerar que a espécie, em nível regional, passa a ser considerada como criticamente ameaçada de extinção no Estado do Paraná”, afirma Tiepolo.

Entre os fatores que lhe concederam o grau mais perigoso de extinção estão o restrito espaço para o desenvolvimento da espécie, a destruição de seus habitats naturais e o desmatamento da Mata Atlântica paranaense.

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A análise é importante pois deve servir de base para listas internacionais. A mais famosa, por exemplo, é a Lista Vermelha da IUCN (International Union for Conservation of Nature), que mantém um banco de dados sobre espécies ameaçadas de extinção no mundo todo. Nela, o Histiotus alienus aparece comoinsuficiente em dados” – a organização considera que há poucas informações para cravar a situação da espécie. Mais pesquisas podem fazer com que essa classificação mude no futuro.

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