Nos próximos oito anos, cientistas munidos de microfones direcionais ultra-sensíveis vão percorrer uma área pouquíssimo conhecida da floreta amazônica, na fronteira com a guiana, com uma curiosa incumbência: gravas o canto dos pássaros. É um modo de identificar os efeitos da construção da hidrelétrica de Balbina sobre a ecologia de uma área de 1500 quilômetros quadrados, às margens do rio Trombetas, no norte do Amazonas.
Com o auxílio do computador do Laboratório de Bioacústica da Unicamp, em Campinas, o biólogo francês Jacques Vielliard, que desenvolve esse trabalho pioneiro no Brasil, pretende catalogar – mediante o registro de seus sons – as espécies de aves encontradas na área e depois observar periodicamente as mudanças. Ele já acumulou cerca de seiscentas gravações de cantos de pássaros da Amazônia, como o do célebre uirapuru, que só canta ao amanhecer – e apenas quinze dias por ano.