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Conheça Le Gentil, o cientista azarado

Ele perdeu o alinhamento de Vênus. E a fortuna. E a esposa. E as amantes. E a...

Por Álvaro Oppermann
Atualizado em 4 set 2017, 12h28 - Publicado em 9 dez 2004, 22h00

Três horas, 14 minutos e 7 segundos. No dia 4 de junho de 1769, esses 194 minutos serviram como linha de demarcação na vida do astrônomo Guillaume Le Gentil e o transformaram para sempre num dos cientistas mais azarados da história.

Nada indicava que isso ocorreria. Guillaume Joseph Hyacinthe Jean-Baptiste Le Gentil de la Galaisière era figura de prestígio na corte do rei Luís XVI. Recebeu diversas honrarias, entre elas a admissão na Academia Real de Ciências. Tinha tudo a que o francês médio aspirava: era rico, casado e também amante da copeira da casa. Depois, enamorou-se da filha de 15 anos da serviçal e tornou-se igualmente amante da jovem.

A sorte começou a mudar em 1760. Em 6 de junho do ano seguinte, o planeta Vênus se alinharia com o Sol pela primeira vez em um século. Era uma oportunidade única para a medição do corpo celeste. Le Gentil rumou para Pondicherry, colônia francesa na Índia e um dos lugares mais propícios no globo à observação do chamado “trânsito de Vênus”*. Despediu-se da esposa (e das amantes) e embarcou numa aventura.

Partindo das terras européias, cruzou o cabo da Boa Esperança e, antes de chegar à Índia, fez uma parada nas Ilhas Maurício. Lá as notícias não eram boas: uma guerra estourara entre a França e a Inglaterra pelo controle do subcontinente indiano. A barra estava pesada em Pondicherry. Le Gentil mudou de planos e rumou para Coromandel, localidade próxima, também na Índia. Pouco antes de chegar ao local, ficou sabendo da vitória britânica e que quem falava fazendo biquinho não era mais bem-vindo na região. A fragata teve de retornar para as Ilhas Maurício. Quando chegou o tão esperado 6 de junho de 1761, o dia estava claro, mas Guillaume Le Gentil não pôde fazer nada: da embarcação em movimento era impossível fazer a observação.

Ainda não era hora de desistir. Um novo trânsito de Vênus aconteceria dali a oito anos. Tempo de sobra. Rumou para as Filipinas, onde foi hostilizado, e voltou para a já apaziguada Pondicherry. Nesse vaivém passaram-se sete anos. Com mais um pela frente até o evento celeste, construiu um observatório superequipado. No dia 4 de junho de 1769, estava a postos. No momento em que mirou o telescópio na direção de Vênus, perfeitamente alinhado com o Sol, uma nuvem se colocou bem defronte deles. E lá permaneceu pela duração do trânsito venusino: as fatídicas 3 horas, 14 minutos e 7 segundos.

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Desesperado, ainda tentou rumar para um porto próximo. Não deu certo. Ganhou, isso sim, uma disenteria que o deixou um ano de cama. Fracassado e ainda doente, decidiu voltar para casa. No caminho, um tufão quase fez seu navio naufragar na costa africana.

Le Gentil chegou em Paris 11 anos e meio após ter partido. E tudo estava bem diferente. Declarado morto, sua cadeira na Academia Real fora tomada por outro cientista. A esposa, considerando-se viúva, tinha novo marido – e com os herdeiros dilapidou a pequena fortuna do astrônomo. Guillaume Le Gentil entrou para a história. Não exatamente como planejava, mas por causa de uma nuvem. Malditos 194 minutos!

* A perfeita observação de Vênus só é possível duas vezes a cada século. A última delas foi no dia 6 de junho de 2004. A próxima, em 5 de junho de 2012. Depois, só em 2117

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