Será possível, por meio de uma simples cirurgia, transformar um cidadão honesto em mentiroso, ladrão ou trapaceiro? “Há motivo para pensarmos que sim”, afirmou à SUPER o neurologista inglês Raymond Dolan, do Instituto de Neurologia, em Londres. Prova disso é uma pesquisa publicada há um mês pelo também neurologista português, radicado nos Estados Unidos, Antonio Damasio, da Universidade de Iowa. Ele estudou o comportamento de pacientes que, com apenas 1 ano e meio de idade, haviam sofrido lesões em uma região do cérebro, o córtex orbitofrontal. Crescidos, eles se tornaram relapsos, passaram a roubar e a abusar fisicamente dos outros. A deformação moral produzida por contusão é conhecida desde o século passado, mas nunca tinha sido investigada de maneira tão completa. “O novo estudo mostra que, se os danos ocorrem em bebês, eles nem aprendem a distinguir o certo do errado”, diz Dolan. “Pacientes lesados depois de adultos percebem a diferença.“ Ele diz que já houve casos em que o córtex orbitofrontal foi danificado não intencionalmente em cirurgias cerebrais – por exemplo, durante a extração de um tumor. Mas as vítimas dos acidentes não foram estudadas a fundo. “Quando dermos mais atenção às falhas de caráter causadas por traumatismo poderemos descobrir se há algum meio de recuperar os doentes.“
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Algo mais
O primeiro a perder os modos devido a um trauma craniano foi o ferroviário americano Phineas Gage, de Burlington, perto de Nova York. Em 1848, em um acidente com dinamite, uma barra de ferro entrou pelo seu queixo e saiu pelo topo do cérebro. Phineas ficou minutos desacordado e levantou-se, para espanto de todos. Depois, recuperou-se por completo. Mas nunca mais foi o funcionário modelo que era. Tornou-se mentiroso, mal-educado e irresponsável.