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O zoólogo e etólogo, Desmond Morris

Ele rebate: ¿Não sou machista. Sou um observador do ser humano em seu cotidiano¿.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h47 - Publicado em 31 Maio 2001, 22h00

Juana Vera

Na década de 50, o zoólogo e etólogo inglês Desmond Morris ficou famoso ao fazer os primeiros filmes para a televisão sobre comportamento animal. Mas com a publicação, em 1967, do best-seller O Macaco Nu (editado no Brasil pela Record), ele se consagrou como um dos maiores especialistas em comportamento humano. Aos 73 anos, suas idéias continuam influenciando pesquisadores em todo o mundo. É dele, por exemplo, o famoso conceito “iguais, mas diferentes”, usado para definir a distinção entre homens e mulheres. Frases como essa lhe renderam acusações de machismo. Ele rebate: “Não sou machista. Sou um observador do ser humano em seu cotidiano”. Mantendo seu estilo provocativo, ele diz que as novas tecnologias devem mudar as relações sexuais humanas. “A vida nas grandes cidades está mudando nossos hábitos”, afirma. “Está cada vez mais difícil ter um relacionamento estável e formar uma família.”

SUPER – O que é o ser humano?

Um primata, um animal que um dia se ergueu, passou a caminhar em pé, desenvolveu seu cérebro e transformou-se no mais extraordinário ser deste planeta. Um animal que prefere se ver como um anjo caído e não apenas como um primata que se levantou.

O que veio primeiro: a posição bípede ou a linguagem?

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Nossos ancestrais primeiro desceram das árvores. Depois passaram a caçar em grupo. Seus cérebros se tornaram mais complexos e surgiu a linguagem.

Seus livros são acusados de ser escritos a partir de um ponto de vista excessivamente masculino…

Não concordo com essa afirmação. Não sou machista. Sou um observador do ser humano em sua realidade cotidiana. Por outro lado, sou zoólogo. Em todos os meus livros, busco despojar o ser humano da sua arrogância – para que ele conheça suas origens. Essa é a a minha forma de contribuir para o conhecimento de nossa espécie.

No livro Masculino e feminino (ainda inédito no Brasil), você afirma que as mulheres cuidarão dos filhos e trabalharão ao mesmo tempo, algo que os homens não poderiam fazer…

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O homem também pode realizar esse duplo papel, como já fez em tempos ancestrais. Observe os pigmeus. Você vai ver que os homens brincam com os filhos quando voltam da caça. Escrevi isso baseado nas megalópoles atuais. Essas imensas cidades não permitem o desenvolvimento normal dos homens. Eles trabalham em escritórios para botar comida sobre a mesa. Mas é quase a única coisa que conseguem. É um hábito nocivo, difícil de mudar.

Você afirma que o comportamento sexual dos seres humanos se desenvolveu quando descemos das árvores. O que mudou desde então?

Foi nesse período que os machos começaram a caçar em grupo e as fêmeas passaram, também em grupo, a construir casas, coletar frutos e cuidar dos filhos. Elas dirigiam a vida social e os homens traziam os alimentos. Após milhões de anos, essa divisão de trabalho fez com que nossos antepassados começassem a ter um comportamento sexual diferente dos outros primatas. O orgasmo é fruto dessas mudanças, assim também como a necessidade de “fazer amor” e não de copular como um ato puramente mecânico.

Como você pode ter certeza de que as fêmeas não caçavam? Sabemos, por exemplo, que são as leoas que caçam, e não os leões…

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As leoas caçam porque, ao contrário das mulheres, suas crias crescem rapidamente. As fêmeas humanas necessitavam dos alimentos que os machos traziam. Mas a morte do macho não era um fato tão terrível como a morte da fêmea, cuja presença era indispensável para os filhos. É por isso que as fêmeas eram adoradas e transformadas em divindades. A imagem do homem primitivo arrastando sua mulher pelo cabelo não faz nenhum sentido.

Com a eclosão das novas tecnologias, nosso comportamento sexual será substituído pelo sexo virtual?

A vida nas grandes cidades está mudando as relações sexuais. Hoje, não é fácil encontrar um casal estável para a formação de uma família. O trabalho no escritório e a própria organização social tira o homem de seu meio natural. As pessoas podem praticar o sexo solitário pela internet. Isso não me parece tão ruim. Pelo menos os tímidos poderão desfrutar do sexo. Mas é uma saída alternativa. A primeira solução é sempre o contato direto.

No século XX, a sociedade compreendeu a importância das contribuições de Freud para entendermos o ser humano. O que você acha que devemos estudar nesse novo século?

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Precisamos olhar com mais atenção para o homem normal. Os cientistas sempre concentraram seus estudos sobre as anomalias humanas. Devemos nos conhecer de uma perspectiva global.

Você tem dito que o aumento da natalidade pode acabar com as outras espécies e transformar o planeta numa gigantesca metrópole. Qual a solução para esse problema?

Sei que parece terrível o que vou dizer, mas o controle da natalidade vai acontecer com o advento de epidemias. As cidades são meios propícios para o contágio de enfermidades. Essas doenças poderão corrigir parte da explosão demográfica. A Aids é um exemplo disso.

O aborto seria outra solução?

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Não me parece a melhor opção. Temos anticoncepcionais e qualquer país pode adotar programas de controle de natalidade, como na China. O ideal seria que cada casal não tivesse mais de dois filhos. Dessa forma, pai e mãe são substituídos por outros seres e o nível de crescimento ficaria estável. Aparentemente simples, esse método é praticamente impossível de ser adotado nos países dominados por religiões fundamentalistas – que aplaudem as famílias numerosas, mesmo quando elas vivem na miséria. O Vaticano também se omite sobre o assunto. Isso é terrível, já que essas religiões não levam em conta os danos que a superpopulação causará à espécie humana.

Você fabrica amuletos. Não é contraditório que um cientista faça esse tipo de jóias? Você crê no poder desses objetos?

Claro que não. Mas creio no poder de quem os leva. Está provado que se você acredita que um objeto vai lhe ajudar e proteger, suas defesas crescem e sua energia flui com mais harmonia. Tudo está em nosso interior.

Como saída para uma possível guerra mundial, você prevê a conquista de outros planetas e mutações genéticas no homem que farão surgir uma nova forma de existência. Você acredita seriamente nessas possibilidades?

Sim, mas não sei se teremos tempo para alcançar essa saída. É provável que o progresso traga uma nova forma de existência que mudará radicalmente nossas vidas. Se nossos tataravós, que viajavam a cavalo, pudessem ver os avanços da aviação, eles achariam esse progresso algo mágico. Provavelmente, se pudéssemos ver os avanços da ciência no ano 2500, sentiríamos o mesmo assombro. Graças à sua curiosidade e capacidade de exploração, o ser humano pode buscar soluções e transformar a sua existência.

Sobreviveremos até lá?

Não sei. A única coisa que sei com certeza é que podemos reconstruir as cidades e fazê-las mais humanas. Também podemos mudar nossos hábitos. A mudança de comportamento é a conquista mais importante que o homem pode desejar alcançar.

Frase

“A mudança de comportamento é a maior conquista que o homem pode desejar alcançar”

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