Onde fica o relógio biológico?
Diferentemente de um relógio de pulso, os ponteiros do nosso organismo são formados por um intrincado sistema de hormônio e proteína.
Thiago Lotufo
Se fosse uma música, o relógio biológico seria na certa Cotidiano, de Chico Buarque: “Todo dia ela faz tudo sempre igual. Me sacode às seis horas da manhã. Me sorri um sorriso pontual. E me beija com a boca de hortelã (…)” Isso porque é ele que regula os nossos horários e comportamentos ao longo do dia, assim como se refere à canção às seis da manhã (hora de levantar), ao meio-dia (almoço), às seis da tarde (fim do expediente) e à meia-noite (sono). Este relógio é fundamental para manter vivo praticamente todos os seres, das borboletas às plantas – incluindo o homem, é claro! Ele é diferente do relógio mecânico, do relógio digital e do relógio de sol, mas sua função é a mesma: marcar o tempo. Na verdade, mais do que isso, pois cada atividade diária – do sono até a sensação de fome, passando pelo controle da pressão arterial – é virtualmente regulada pelo relógio biológico.
Mas onde ele fica e como funciona? Bem, o relógio não é algo palpável que se encontra em alguma parte obscura do corpo. Mas, sim, um intrincado sistema de glândula, hormônio e proteína que ainda não está totalmente desvendado. A melatonina, por exemplo, um neuro-hormônio liberado pela glândula pineal (situada na base do hipotálamo) é um importante ponteiro do relógio e tem grande influência sobre o sono. Sua secreção é determinada por estruturas fotossensíveis. À noite, no escuro, é o momento em que a melatonina circula em maior quantidade pelo organismo. Durante o dia, na presença da luz solar, sua liberação é suprimida.
O SEGUNDO PONTEIRO
O relógio biológico, porém, não funciona apenas com um ponteiro. Em 1999, pesquisadores descobriram mais um deles. Trata-se do peptídeo ativador da adenilciclase da glândula pituitária (PACAP). De acordo com os estudos feitos em animais, este peptídeo interage com o glutamato (um tipo de neurotransmissor) para “informar” o relógio sobre a luz ambiente. Tanto o glutamato como o PACAP parecem ser liberados numa razão proporcional à intensidade do estímulo luminoso. O PACAP faz o ajuste fino do sinal emitido pelo neurotransmissor e, os dois, em conjunto, abastecem o relógio com dados sobre a luz, permitindo que ele se atrase ou se adiante.
Dois ponteiros, portanto, já parecem ter sido encontrados. Sua engrenagem surgiu somente este ano e foi revelada pelo casal de pesquisadores James e Dorothy Morré. Eles constataram que uma única proteína (sem nome específico) pode ser responsável por toda a essência do funcionamento do relógio humano. Isso porque ela cuidaria do ciclo de expansão das células que, segundo o casal, dura 24 minutos (assim como o dia tem 24 horas). A proteína faria a célula crescer por 12 minutos e depois descansar por mais 12 antes de crescer novamente.