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Os animais , nossos caros amigos

Um novo conceito de atuação política e pessoal se espalha pelo mundo: o Direito dos Animais. Se o homem quer ser respeitado, precisa aprender a tratar os animais com dignidade

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h33 - Publicado em 31 Maio 2001, 22h00

Dagomir Marquezi

Há mais de 10 000 anos, o ser humano já era o que é hoje: um animal. Um animal diferenciado, mas um animal. Um predador com armas poderosas, capaz de criar e destruir como nenhum outro habitante do planeta. Aí o homem aprendeu que podia domesticar outros animais para seu próprio benefício e companhia. E estabeleceu uma relação de dominação, mas com respeito. Civilizações avançadas – a egípcia, por exemplo – adoravam animais como representantes dos deuses na Terra!

Porém, na medida em que evoluiu, a civilização humana passou a tratar mal os outros animais. Muito mal. O pensador René Descartes, no célebre ensaio Discurso do Método (1637), declarou que os animais eram como máquinas, mecanismos sem alma nem dor. Já viramos o século 21 e essa lei absurda continua vigorando. Animais, em geral, ainda são considerados seres “inferiores”, “irracionais”, que devem existir apenas para nosso desfrute.

Espaço Vital

O homem está ocupando terras que não lhe pertencem. Sem limites para se reproduzir, os humanos criam infernos urbanos devorando ecossistemas, vazando óleo, queimando florestas, caçando e pescando como se animais surgissem do nada e não tivessem fim. Um caso altamente simbólico ocorre com os gorilas-da-montanha, que até já viraram astros de um filme com Sigourney Weaver. Cercados de massas de miseráveis, caçadores clandestinos e exércitos terroristas, os últimos 400 exemplares dessa sofisticada espécie tentam hoje sobreviver num único parque da África central. A questão: os seres humanos têm de ocupar TODOS os espaços do planeta? Não podem deixar uma única montanha para os gorilas?

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Exploração Econômica

Existe um limite entre transformar um animal em fonte de renda e tratá-lo como uma simples mercadoria. Os mais chocantes exemplos ocorrem no extremo Oriente. Em restaurantes do Japão, da China, da Coréia e de Taiwan, cães são lentamente torturados até a morte para que consumidores possam saborear suas carnes regadas a doses brutais de adrenalina. Em fazendas chinesas, ursos passam a totalidade de suas vidas – 40 anos de dor – deitados entre as grades de gaiolas apertadíssimas, com um tubo enfiado no fígado para a “coleta de bílis” – que os orientais consideram “medicinal”. Tigres estão sendo exterminados para que seus pênis sejam transformados em “chá afrodisíaco”. São exemplos dramáticos, mas que ilustram a que ponto os seres humanos levam essa idéia absurda de que são senhores absolutos da natureza. Os mares e oceanos estão sendo esquadrinhados por redes gigantescas, com quilômetros de extensão, que matam tudo o que encontram pela frente.

Nas fazendas, os humanos tiraram os animais da pecuária e os transformaram em objetos industriais. O pensamento de Descartes continua reinando em criadouros onde galinhas não podem dormir nem se mexer, apenas engordar até o abate em plena juventude. Bezerros são tirados das mães, trancados em cubículos de cimento e obrigados a passar seus poucos meses de existência no escuro, tendo leite em pó como única fonte de alimentação. Essa existência imóvel e sem sol termina com um choque na cabeça. O bezerro vira baby beef, artigo de luxo em açougues e churrascarias.

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Como todos já sabem, a doença da vaca louca surgiu quando criadores europeus alimentaram seus bovinos com carcaças de animais, obrigando bois e vacas a romper com milênios de evolução para se tornarem canibais. É a conseqüência da busca de máxima rentabilidade sem o mínimo de ética.

 

Respeito

Michelangelo já dizia, em pleno século 16, que, enquanto os homens não aprendessem a respeitar os animais, não saberiam respeitar a si próprios. Neste início de século 21, um novo conceito de atuação política e pessoal se espalha pelo mundo: o Direito dos Animais. Ele se baseia no fato de que, se o homem quer ter seus direitos respeitados, deve ser coerente e tratar animais com dignidade e civilidade. Ou não poderemos nos chamar de civilizados.

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Um número crescente de pessoas luta para que animais deixem de ser futilmente torturados em laboratórios e que touros não sejam sangrados até a morte em espetáculos públicos. Leões, elefantes e tigres vivem em horríveis condições nos circos de periferia, porém não elegem deputados e senadores. Galos são obrigados a se esfolar vivos nas rinhas, mas não conseguem se comunicar com chefes de reportagem e delegados de polícia. É preciso que alguns humanos façam isso por eles.

Uma grande campanha pública, que aconteceu entre 1986 e 1987, determinou que o Brasil não mais permitiria a caça à baleia em suas águas territoriais. É um exemplo de que dá para fazer alguma coisa. Na surdina, foi uma das campanhas políticas espontâneas mais bem-sucedidas das últimas décadas.

 

Extinção

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Os homens não “inventaram” os animais. Não têm, portanto, o direito de acabar com sua existência. “Pelo ano 2020, 20% ou mais das plantas e animais da Terra estarão ameaçados”, avisa o doutor Gerard Bertrand, da Audubon Society. “É a maior extinção a curto prazo desde os dinossauros.”

Um inseto amazônico está lá por um motivo. Faz parte de um sistema que funciona há milhões de anos – uma fábrica de vida. Ao exterminar esse simples inseto, os humanos estão quebrando uma grande, complexa e frágil rede de seres interdependentes. Um inseto extinto não tem apenas importância na ordem natural das coisas. Ele pode ser a base de um remédio para a cura de alguma grave doença humana.

Cientistas estão começando a estudar a sério os hábitos dos grandes primatas africanos: para cada doença, os macacos procuram uma planta específica. Chegou a hora de aprender medicina com gorilas e orangotangos, que, portanto, precisam de seus “laboratórios” – seus hábitats – intactos e protegidos, para que possam revelar seus segredos à ciência humana.

Enfim, queimar e destruir a fábrica da vida não parece ser a melhor prova da nossa suposta racionalidade.

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Dagomir Marquezi, que já em 1986 assinava uma coluna sobre ecologia num dos maiores jornais do Brasil, defendeu com unhas e dentes o fim da caça às baleias no país. No ano passado, como repórter de estimação da revista Playboy, passou um fim de semana numa jaula do zoológico de Sorocaba, interior de São Paulo. É um profissional raríssimo, em vias de extinção.

Daqui pra frente…

CENÁRIO NEGATIVO

 

Calcula-se que 17 500 espécies animais e vegetais desapareçam do planeta a cada ano, a maioria ainda desconhecida pelo homem. Com a destruição dos hábitats, especialmente nos trópicos, esse número crescerá, comprometendo processos naturais como a polinização e a reposição de nutrientes no solo.

 

CENÁRIO POSITIVO

Com a preservação dos ecossistemas e o sucesso de programas de repovoamento de espécies sob risco de extinção, os cientistas terão tempo para pesquisar melhor a diversidade biológica do planeta. Surgirão soluções surpreendentes para as doenças e outros desafios da humanidade.

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