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Você passa muito tempo sentado

As cadeiras são nossas parceiras. Mas também minam a saúde. Veja como evitar que elas te façam mal.

Por Thais Harari
Atualizado em 21 Maio 2020, 16h05 - Publicado em 5 out 2015, 21h00

Você já parou para pensar quanto tempo passa sentado? Durante as refeições, no trabalho, na escola, no cinema, no cabeleireiro, tomando sol na praia, jogando cartas com os amigos… As cadeiras (e seus descendentes fofinhos, os sofás) estão em praticamente todas as situações do dia a dia. É impossível imaginar o mundo sem elas. Mas esse móvel já foi considerado um item de luxo.

É impossível saber exatamente quando a primeira cadeira foi criada, mas os exemplares mais antigos são do século 7 a.C. e estão expostos em museus do Egito – onde, acredita-se, a peça tenha sido inventada. As primeiras cadeiras eram feitas de ébano ou marfim e pertenciam às classes mais abastadas. Foi assim durante toda a Antiguidade. Em Roma, por exemplo, elas costumavam ser feitas de mármore e custavam muito caro. As classes mais baixas tinham de se contentar com banquinhos sem encosto.

Durante a Idade Média, a cadeira continuou carregando certa mística. Mesmo nas famílias mais ricas, só o dono da casa podia se sentar nelas. Nem os filhos do rei francês Luís XIV tinham permissão para usar cadeiras – na presença do pai, eles só podiam se sentar em banquinhos. Foi só depois da Revolução Industrial, no final do século 18, que esse cenário se transformou definitivamente. Surgiram novas ferramentas e técnicas para tratar a madeira, as cadeiras deixaram de ser feitas a mão e passaram a ser produzidas em larga escala. Ficaram muito mais baratas, ao alcance de qualquer pessoa.

Além de abaixar os preços, a tecnologia mudou o próprio formato das cadeiras. No século 19, o austríaco Michael Thonet inventou um jeito de entortar madeira usando vapor quente, o que permitiu a elaboração de móveis mais delicados. “Até então, para desenhar uma curva, era preciso usar uma serra. Além de ser mais difícil, gerava muito desperdício de madeira”, conta a desenhista industrial Teresa Ricetti, professora da Universidade Mackenzie.

Na técnica bolada por Thonet, a madeira é deixada sobre vapor quente e amolece, o que permite mudar seu formato. O austríaco criou modelos icônicos, que são populares até hoje. Sabe aquelacadeira de balanço da vovó, com assento e encosto de palha? Foi Thonet quem desenhou. Também é bem provável que você já tenha visto – ou tenha na sua casa – o modelo nº 14, outro clássico com assento de palha e encosto formado por apenas duas tiras de madeira arredondadas.

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Quem projetava uma cadeira pensava principalmente na estética e não dava muita bola para o conforto. Ele só começou a ser levado em conta no final do século 19, quando surgiram os primeiros modelos desenhados para melhorar o posicionamento da coluna, evitando dores nas costas. É nessa época que aparecem as cadeiras especialmente projetadas para uso profissional, como acadeira de dentista, a de cabeleireiro, a de costureira e a de escritório – que foi criada em 1896 pelo americano Herbert Andrews e permitia ajustar a altura do assento e do encosto para que pessoas de vários tamanhos pudessem se sentar corretamente em frente a uma máquina de escrever.

As cadeiras de escritório que usamos hoje são descendentes diretas dela. Mas também foram muito influenciadas por pesquisas feitas na década de 1970. Uma das primeiras cadeiras ergonômicas foi a Ergon Chair, lançada em 1976 pela empresa americana Herman Miller. Ela trazia uma novidade, que virou equipamento de série em todas as cadeiras de trabalho – um compartimento de gás comprimido, que funciona como amortecedor e ajuda na hora de regular a altura do assento (coloque a mão embaixo da sua cadeira de trabalho, e você irá encontrar uma alavanca que controla esse sistema). Mas, nessa mesma época, a história de amor da humanidade com as cadeiras começou a dar os primeiros sinais de desgaste.

Ai, minhas costas

Na década de 1970, o médico Alf Nachemson, da Universidade de Gotëborg, na Suécia, revolucionou os estudos sobre cadeiras. Ele avaliou nove voluntários em 26 situações diferentes (sentados, deitados, tossindo, pulando etc.) e mediu a pressão sobre os discos da região lombar, na parte de baixo das costas. Nachemson constatou que, quando a pessoa está sentada, sua coluna recebe 40% mais pressão do que quando está de pé. Ele descobriu algo que hoje parece óbvio, mas na época foi muito surpreendente: sentar faz mal para a coluna. Quando você está de pé, pés e pernas sustentam o peso do corpo. Mas, quando você está sentado, a coluna e a bacia têm de fazer esse trabalho sozinhas – pois não recebem a ajuda das pernas e dos pés, que estão relaxados. E isso gera uma sobrecarga inevitável. Mesmo se você se sentar na melhor cadeira do mundo e mantiver uma postura perfeita, suas costas vão sofrer.

Sem contar que é muito difícil ficar perfeitamente ereto, certinho, o tempo todo. “As áreas mais afetadas são as regiões lombar e dorsal (das costelas), além do pescoço”, explica o ortopedista Roberto Guarniero, do Hospital Santa Catarina, em São Paulo. Depois de algum tempo sentado, a pessoa quase sempre adota posturas erradas sem perceber. Quem trabalha muito tempo no computador, por exemplo, tende a jogar o corpo para a frente e se aproximar da tela. Isso aumenta a pressão sobre os discos vertebrais e sobrecarrega ainda mais a parte posterior da coluna, que fará força para tentar puxar o corpo para trás e impedir que você caia de cara na mesa. “Pode provocar dor na lombar, no pescoço e entre as escápulas”, explica o ortopedista Ivan Rocha, do Hospital das Clínicas.

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As costas não são a única vítima. Uma pesquisa feita com 220 mil pessoas pela Universidade de Sydney, na Austrália, constatou que quem passa 11 horas por dia sentado tem 40% mais chance de morrer (independentemente da causa) nos próximos três anos, comparado a quem fica apenas quatro horas por dia sentado. O pior é que esse risco aumenta mesmo se a pessoa estiver em forma e praticar atividade física. Ou seja: em tese, não adianta ficar prostrado e depois ir à academia, ou correr um pouquinho no parque, para compensar. Como todo estudo que mede risco, a pesquisa australiana trabalha com probabilidades – e o mais provável é que não aconteça nada, ou seja, você não morra nos próximos três anos, mesmo se ficar sentado um tempão. Mas outro levantamento, também feito por cientistas australianos, sugere que isso pode cobrar a conta mais tarde, na velhice. Eles compararam os hábitos de 11 mil pessoas e descobriram que quem passa 3 horas por dia sentado vive 2 anos a menos, em média. E, se você acrescentar mais 2 horinhas no sofá vendo TV, pior ainda: sua expectativa de vida cai mais 1,4 ano.

Se você está lendo esta reportagem sentado, já deve ter começado a sentir uma dorzinha nas costas. Aconteceu comigo depois de todas as horas sentada, dias a fio, que passei pesquisando, fazendo entrevistas e redigindo este texto. E minha cadeira de trabalho é terrível: tem encosto mole e um apoio para os braços que não regula. Então decidi me levantar e ir até as lojas procurar as melhores cadeiras à venda no Brasil. Experimentei várias. A de que mais gostei foi a Sayl, da marca Herman Miller. No dia em que virar chefe, vou querer uma. É superconfortável e tem um visual descolado e moderninho, mas também impondo certa autoridade. Adorei. Pena que eu tenha mesmo de esperar virar chefe para ter essa oportunidade. A cadeirados meus sonhos custa a bagatela de R$ 2.900.

E, por melhor que uma cadeira seja, só poderá atenuar (nunca eliminar) os prejuízos à saúde de ficar muito tempo sentado. Talvez a saída seja aderir às standing desks, ou seja, em que se trabalha de pé. Elas existem desde o século 18, mas têm ganho adeptos nos últimos anos. É que, além de supostamente evitar os malefícios de ficar sentado, emagrece: a cada hora trabalhando em pé, queimam-se de 20 a 50 calorias a mais. Mas fazer isso o dia inteiro cansa e também tem seu lado ruim: problemas circulatórios e dores nas costas. O ideal, segundo especialistas, é mesclar as duas coisas. Se você trabalha sentado, levante e ande um pouco a cada hora. Faz bem para o corpo – e para a cabeça também.

Muito além da coluna

Ficar muito tempo sentado afeta as costas – mas não só

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1. CORAÇÃO: Os músculos queimam menos gordura e o sangue circula mais devagar quando sentamos. Por isso, a chance de ter pressão e colesterol altos é maior.

2. PÂNCREAS: Nos sedentários, as células demoram mais para absorver glicose e produzir energia. Isso força o pâncreas, que é obrigado a produzir mais insulina, e pode levar ao desenvolvimento de diabetes.

3. PERNAS: Sofrem uma piora na circulação sanguínea. A consequência são tornozelos inchados e formação de varizes.

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4. CÉREBRO: O movimento dos músculos faz com que o sangue circule, levando oxigênio ao cérebro. Quando sentados, as funções cerebrais diminuem.

5. COLUNA / PESCOÇO: Risco de hérnia de disco na lombar. A musculatura na região fica tensionada, afetando o posicionamento dos discos vertebrais. Depois de várias horas sentado, você se inclina para a frente – causando dores no pescoço.

A postura correta

Sentar direito afasta dores e lesões por esforço repetitivo

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1. COSTAS: O encosto da cadeira deve chegar até o meio da coluna. Assim, é possível manter o desenho natural das costas e apoiá-las corretamente.

2. BRAÇOS: É importante que a cadeira tenha um apoio para eles. Se não tiver, apoie os antebraços e punhos na mesa. Evite digitar com os braços “voando”.

3. JOELHOS: Deixe-os paralelos, para a frente, e flexionados – o ângulo entre coxa e panturrilha deve ser de 70 a 90 graus.

4. PERNAS: Devem ficar totalmente apoiadas no assento. Para que isso aconteça, pode ser necessário ajustar a distância do encosto.

5. PÉS: Devem ficar inteiramente apoiados no chão (não só as pontas). Isso ajuda a redistribuir parte do peso do corpo, reduzindo a pressão sobre a coluna.

Fonte Fifty chairs that changed the world. The Design Museum, Editora Conran, 2009.

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