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Por que um juiz de vídeo tem visão mais “viciada” que os outros

Abusar da câmera lenta pode dar uma interpretação menos real da dinâmica do jogo - em comparação aos árbitros que estão no gramado

Por Guilherme Eler
Atualizado em 26 jun 2018, 13h31 - Publicado em 28 jul 2017, 19h37

Não há dúvida nenhuma de que a Copa do Mundo de 2018 está sendo marcada pelas polêmicas com o árbitro auxiliar de vídeo – seja nos jogos do Brasil ou em lances controversos de Portugal contra o Irã.

É sempre bom recapitular: a tarefa do novo juizão é nada menos que acompanhar o jogo à distância, se guiando pela transmissão gerada fora das quatro linhas. Um impedimento polêmico ou uma bola que não se sabe se ultrapassou totalmente a meta podem invocar sua presença salvadora a qualquer momento – o que faz com que ele tenha de estar sempre, como diria o poeta, de olho no lance.

Não é exagero dizer que, para esses profissionais, manter a precisão padrão FIFA é tarefa um tanto mais simples. Além de estarem livre de ouvir os xingamentos da torcida, eles contam com alguns recursos que só a gravação em vídeo é capaz de oferecer. Adiantar e voltar, aproximar, e, principalmente, assistir ao replay do lance em câmera lenta, são uma verdadeira mão na roda para agilizar qualquer veredicto.

O que um estudo publicado no periódico Scientific Reports apontou, no entanto, é que essas “muletas eletrônicas” podem atrapalhar o serviço dos assopradores de apito. Alguém escalado repetidas rodadas como árbitro de vídeo provavelmente estranharia na hora se tivesse de mediar um jogo no campo. Isso porque o recurso de slow-motion (a popular câmera lenta) é capaz de alterar a nossa percepção da realidade – prejudicando a resposta dos árbitros às situações reais de bola rolando.

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Funciona mais ou menos assim: você assiste a um vídeo cheio de movimentos em câmera lenta e, depois, um semelhante, mas agora com a velocidade normal. Por seu referencial mais recente ser aquele em que as coisas passam mais devagar, sua resposta imediata seria dizer que a cena mostrada em ritmo normal havia sido acelerada.

O mesmo aconteceria no caso de uma versão super-rápida. Assistir a algo acelerado faz com que você achar que o que vem depois está em ritmo de tartaruga. Ou seja: as suas experiências e seu conceito sobre o que é “normal” podem ser alterados por experiências visuais recentes.

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Foi exatamente o que as cobaias do estudo vivenciaram. Para ficarem enviesados em relação ao tempo, eles precisaram ver apenas pequenos vídeos de 30 segundos em cada um dos formatos. As cenas mostravam trechos de competições esportivas variadas – como por exemplo, lances de uma partida de futebol disputada na Europa. O cérebro, a máquina mais potente e complexa do mundo, foi capaz de se adaptar a essas diferenças visuais que cada vídeo despertou. Esse ajuste, e a volta para a realidade, no entanto, não são processos automáticos.

Exatamente por esse trabalho de ligar e desligar essa chavinha é que as decisões tomadas com a ajuda das máquinas contribuiriam para uma espécie de “dependência”. É o que defende George Mather, um dos autores do estudo: “Se a decisão vier com a repetição de replays em slow-motion, as conclusões podem ser afetadas por esse ‘efeito adaptativo’ que explicamos no estudo”, explica.

A inserção do recurso de vídeo como ferramenta para julgar lances no futebol começa, cada vez mais, a fazer parte de competições profissionais. Além do teste que a FIFA fez na última Copa das Confederações, a FA (equivalente da CBF na Inglaterra) decidiu utilizar gravações de competições nacionais a partir de 2017. A ideia é que os vídeos sirvam para recuperar e rever faltas e lances mais polêmicos – e determinar se um jogador foi realmente atingido ou estava somente simulando. É a tecnologia contribuindo para um esporte mais competitivo – azar de quem tem fama de “cai-cai”, como os torcedores brasileiros sabem muito bem.

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