Presídio viral
Feito para abrigar vírus pouco conhecidos e potencialmente letais, o laboratório tem nível de biossegurança 3+.
Reinaldo José Lopes
S egurança máxima é apelido: quem sofre de claustrofobia nem deve pensar em adentrar o Laboratório Klaus Eberhard Stewien, recém-inaugurado no Instituto de Ciências Biomédicas da USP. Feito para abrigar vírus pouco conhecidos e potencialmente letais, o laboratório tem nível de biossegurança 3+. Só as instalações do Centro de Controle de Doenças em Atlanta, Estados Unidos, são mais seguras que ele no mundo todo. Na prática, isso significa um minucioso ritual para entrar, sair e até respirar ali dentro – do tipo que exige banhos com cloro e filtragem tripla do ar.
Os seis pesquisadores que cabem no espaço de 50 metros quadrados vão lidar com vírus como o da Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave, na sigla em inglês), hantavírus (transmitidos por roedores silvestres), arbovírus (grupo a que pertence o vírus da dengue) e o vírus do oeste do Nilo, que ainda nem chegou ao Brasil mas já fez centenas de vítimas nos Estados Unidos. “Daqui só sai vivo o pesquisador”, diz o biomédico Edison Luiz Durigon, que coordena o superlab.
Bem-vindo ao superlaboratório brasileiro
No mundo todo,só existe uma instalaçãomais segura que esta
ÁGUA E ESGOTO
Recebem tratamento ali mesmo, nesta estação especial, e só depois permite-se que alcancem o ambiente externo
SAÍDA DE OBJETOS
Quem quiser mandar algum objeto para fora da sala precisa passá-lo por este compartimento, onde ele leva um banho de detergente e de radiação ultravioleta para matar os microorganismos contaminantes
AUTOCLAVE
Tanque fechado lava as roupas reutilizáveis dos pesquisadores sob pressão e vapor
PRESSÃO
A pressão atmosférica do laboratório é ligeiramente mais baixa que a de fora. Não que haja algum problema para a respiração dos pesquisadores ali dentro – isso só significa que, se houver algum problema, é o ar de fora que entra, e não o de dentro que escapa
SEQÜENCIADOR DE DNA
A máquina lê as “letras” químicas do material genético dos vírus e manda os dados para o laptop acoplado. Os pesquisadores identificam o organismo em tempo real
ENTRADA
Na antecâmara de entrada, o cientista se despe e deposita sua roupa pessoal na janela à direita. Então coloca o traje especial para o trabalho: macacão, capuz, óculos, luvas e pantufas
ESTUFA
Contém vírus em meio de cultura com “atmosfera” de CO2
FREEZER
Guarda tecidos biológicos que contêm os vírus
PORTAS
Funcionam em sequência. Para abrir uma delas, a de trás deve estar fechada. Todas são vedadas com uma borracha que infla para impedir qualquer circulação de ar
CENTRÍFUGA
Para manter homogêneo o meio de cultura onde crescem os vírus, o aparelho os chacoalha sem parar dentro de tubos de ensaio especiais
AR
Ele é filtrado quando entra e quando sai do laboratório, além de passar por novo pente-fino presente na máscara dos pesquisadores
SAÍDA
O pesquisador deixa seu traje especial na antecâmara de saída e segue para o banho. O último a ir embora leva os macacões dos colegas para lavar na autoclave. O banho é tomado com 20 litros de água com cloro desinfetante mais 30 litros de água destilada. Por fim, o cientista pega sua roupa na janela que dá para a antecâmara de entrada e pode sair
Os níveis de biossegurança
Laboratório NB1
Lida com microorganismos ou vírus sem risco para a saúde.
NB2
Agentes causadores de doenças conhecidas, como o vírus da hepatite B.
NB3
Vilões microscópicos conhecidos e potencialmente letais, como o vírus da raiva.
NB3+
Microorganismos pouco conhecidos ou não-catalogados.
NB4
Igual ao nível 3+, mas com vírus altamente infecciosos, como o do ebola.
NB5
Em planejamento; para abrigar microorganismos vindos de outros planetas