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Prever terremotos: a ciência do impossível

O acompanhamento de interações complexas entre tremores aumenta as chances de saber quando e onde a próxima catástrofe ocorrerá

Por Reinaldo José Lopes
Atualizado em 31 out 2016, 18h49 - Publicado em 18 fev 2011, 22h00

Se o capricho dos deuses ainda pudesse ser invocado como a causa de fenômenos naturais, os terremotos estariam no topo da lista. Apesar de uma ampla rede de sensores sísmicos e de muita pesquisa nas áreas de risco, desastres continuam ocorrendo. A impressão é que o único jeito de encarar a possibilidade de um terremoto é construir prédios que resistam aos tremores e estar sempre preparado para o pior.

Ou será que não? Apesar das dificuldades, muitos geólogos acreditam que dá para melhorar a capacidade atual de previsão, que permite apenas um tempo curto de preparação para a catástrofe. “Hoje você consegue fazer previsões que podem variar de algumas horas a um dia de antecedência, mas sempre dentro de uma faixa de probabilidades”, diz João Willy Corrêa Rosa, professor-adjunto do Laboratório de Geofísica Aplicada da UnB (Universidade de Brasília). Um dos entraves para refinar esses resultados tem a ver com a grande variação dos processos que desencadeiam terremotos em cada lugar do planeta. O tipo de fricção e tensão entre as várias formações rochosas acaba impedindo que os resultados de estudos numa região sejam plenamente generalizados para outra.

Efeito dominó

São várias as ferramentas hoje utilizadas para tentar saber quando um terremoto dos grandes vai acontecer. Uma delas é a ocorrência dos chamados foreshocks (“pré-choques”, em inglês), abalos relativamente pequenos que podem sugerir que uma catástrofe se aproxima. “Eles indicam que a falha geológica [a região de encontro entre massas de rocha que origina o terremoto] está começando a liberar energia em escala menor antes do abalo principal”, diz Rosa. O problema é que não existe nada de essencialmente “pré” nos foreshocks: sua presença não necessariamente prova que uma sacudidela vai arrasar a região. Outro possível indicativo de tremores sérios é o aumento da emissão de radônio, um gás radioativo facilmente detectável que surge a partir de alterações em rochas que contenham urânio. “O terremoto vem do rompimento de rochas abaixo da superfície. Isso acaba levando à produção de radônio”, explica o geólogo João Carlos Dourado, que é pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro.

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A chave para refinar a qualidade das previsões vai ser a compreensão das interações entre os terremotos sucessivos ao longo do tempo, aposta Ross S. Stein, geofísico da Equipe de Risco de Terremotos do Serviço Geológico dos EUA. Stein e seus colegas analisaram tremores seguidos em vários locais da Califórnia e do Japão e chegaram à conclusão de que existe uma “transferência de estresse” ligada aos terremotos que acabam ocorrendo na mesma falha geológica ou em falhas vizinhas.

Grosso modo, diz Stein, o que acontece é que o estresse das rochas liberado num determinado tremor não desaparece totalmente após a mexida de terra, mas é parcialmente transferido para outras áreas, pouco a pouco. Dessa maneira, cada terremoto ao mesmo tempo diminuiria o risco de novos tremores em algumas regiões e aumentaria essa probabilidade em outras. Analisando a história dos terremotos em cada pedaço da Terra, seria possível, portanto, montar um mapa detalhado de risco, ajudando os governos a prever onde o próximo grande desastre ocorrerá. Com o monitoramento online de dados sísmicos e até o uso de GPS, a esperança é que a precisão cresça. “O monitoramento de GPS já permite que você detecte movimentações muito pequenas do solo”, afirma Dourado.

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