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Professor também se enrosca para resolver problemas

Artigo do professor Luiz Barco em que relata sua dificuldade em revolver um problema do 2ú Grau e sua percepção de que fora da situação aula os estudantes percorrem caminhos mais livres e imaginosos; ainda, escreve um exercício para ser solucionado pelos leitores.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 31 ago 1992, 22h00

Luiz Barco

Pouco antes do inicio das férias escolares de julho, o sobrinho de um amigo me procurou para que eu o ajudasse a fazer uma revisão de alguns assuntos de Matemática do 2° grau, porque decidira prestar um concurso. Como eu só poderia estar com o rapaz por poucas horas no domingo que antecederia a prova sugere que ele então se resolver uma bateria de problemas, de tal modo que, para isso teria de dominar os principais conceitos envolvidos. As duvidas tiraríamos depois.

Na véspera do exame nos encontramos, e meu jovem amigo começou a me explicar o raciocínio que construíra para resolver os exercícios. Percebi então que, fora da situação aula (aluno-professor-escola), os estudantes percorrem caminhos mais livres e imaginosos que a instituição escolar parece inibir. Descobri, por exemplo, que certos cursos sobre análise combinatória parecem ter efeito nocivo sobre os jovens, na hora de resolve problemas. Boa parte das dificuldades que eles apresentam na hora de enfrentar as “probabilidades” se deve mais à comunicação que aos conceitos – o entendimento e a interpretação dos enunciados são, em geral, mais complicados que os conceitos necessários ara se encontrar a solução.

A grande surpresa ficou por conta de um problema tirado de um livro que o rapaz e me apresentou, avisando que ele e o pai, um arquiteto, tinham gasto uma tarde inteira sem conseguir resolvê-lo. À noite, pediu auxilio a um tio engenheiro, que também não foi bem-sucedido. Eu, de minha parte, nunca tinha visto aquele problema. Enquanto tentava solucioná-lo, senti que o rapaz me enxergava como portador de um molho de chaves mestras com as quais se elucidava qualquer tipo de exercício. Quando não consegui, li nos olhos dele uma certa decepção e, em seguida, uma carinhosa aproximação. Afinal, professor de Matemática não é um bicho raro. Ele também se enrosca nos problemas e chega a ser quase humano.

Depois do primeiro insucesso, parti para analisar melhor a questão e construí uma solução imaginosa, mas cheia de idas e vindas – pouco pedagógica, diria um critico de plantão. Mas o garoto vibrou e juntos fizemos a critica a caminhada na qual ele pegara uma “carona” comigo. Daí para a construção de uma solução clara foi um passo. Ao terminarmos, meu jovem amigo comentou: “Então é assim que vocês fazem para resolver um problema que não conhece? Na aula é tudo tão certinho que a gente nem imagina o trabalhão que dá e, quando não conseguimos resolver, temos uma grande sensação de burrice”.

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Tive de admitir que os livros e as aulas são higiênicos demais. Ao apresentar as soluções finais dos problemas, sonegamos aos nossos jovens o processo criador que só a duvida alimenta. Pior. Dessa forma, matramos o prazer do lúdico. Para preservar sua criatividade e imaginação, apresento um problema enviado pelo leitor Alfredo Ferraz, cuja solução é o melhor exemplo de tudo o que escrevi.

Era uma vez um planeta distante habitado por galinhas de penacho. Devido a seu limitado movimento de cabeça, não enxergavam seus próprios penachos, só os das outras companheiras. Isso era um problema,

pois eram tão orgulhosas deles que, se uma delas perdesse o adorno, se suicidaria na noite do mesmo dia, enquanto as outras estivessem dormindo. Certa noite, porém, o planeta das galinhas foi invadido pelos gansos malvados do planeta vizinho, que, aproveitando a escuridão, cortaram os penachos de algumas delas, deixando-os espalhados pelo chão. No dia seguinte, ao acordar, as galinhas depararam com o desastre e, na sétima noite após aquele dia, algumas cometeram suicídio. Quantas galinhas morreram? Se você admitir que todas as galinhas de penacho são inteligentes e observadoras, e concluir que a resposta é sete. Está lançado o desafio: resolvam o problema e, se quiserem, mandem a solução para a redação da SUPERINTERESSANTE, aos meu cuidados.

Luiz Barco é professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

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