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Quando a mãe não está, morcegos fêmeas pedem comida para amigas

Sangue não é um almoço fácil de conseguir. Então elas oferecem comida umas para outras.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 8 abr 2019, 14h16 - Publicado em 24 Maio 2017, 15h55

Joe Cocker já sabia há muito tempo que contar com uma ajudinha dos amigos é uma ótima ideia na hora de encarar a vida – tudo bem, a música é dos Beatles, mas a versão original não é tão boa.

Legal mesmo é que os cruéis morcegos-vampiro (Desmotus rotundus) – famosos por se alimentarem do sangue de outras aves e mamíferos – seguem a lição do rock psicodélico ao pé da letra. Um estudo do Instituto de Pesquisas Tropicais do Smithsonian revelou que as fêmeas da espécie bebedora de sangue são muito apegadas às suas mães e irmãs, mas que quando estão longe da família, costumam receber apoio e alimento das colegas mais próximas.

A equipe, liderada pelo biólogo Gerald Carter, acompanhou por quatro anos a rotina de 14 fêmeas em um população que tinha, ao todo, cerca de 30 indivíduos. No período, em intervalos regulares, uma integrante do grupo era retirada e forçada a jejuar por 24 horas – isso aconteceu 91 vezes. No dia em que a azarada da vez ficava de fora da equação, eles ficavam de olho nas companheiras restantes, que tinham diferentes graus de parentesco entre si.

As fêmeas isoladas não eram selecionadas aleatoriamente – pelo contrário, eram as doadoras de alimento mais prestativas e frequentes de outras “morcegas”, geralmente suas filhas ou mães. Aqui cabe uma nota indigesta: entre morcegos dessa espécie, dar alimento significa regurgitar sangue na boca de quem você ama. Foram registrados, ao todo, 1.337 vômitos benevolentes no período de observação.

O objetivo era simples: saber se, na ausência da marmita de Drácula fornecida pelos parentes, as fêmeas que eram deixadas sozinhas eram ou não capazes de conseguir comida com amigos e outros indivíduos próximos, mesmo sem ter relações sanguíneas com eles.

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“É melhor ter poucas relações sociais muito importantes ou um número maior de relações menos importantes?”, perguntou Carter em um anúncio à imprensa. “Para um animal social, não é vantagem dedicar todo o tempo e energia disponíveis em uma só relação, especialmente em um ambiente social imprevisível. É como por todos os seus ovos em uma só cesta.”

Na hora da fome, essa estratégia social garante às fêmeas que aquela amiga sumida as ajude sem problemas. Segundo os pesquisadores, esse comportamento provavelmente se desenvolveu porque sangue é um alimento bem difícil de conseguir, e nem toda caçada é frutífera para todos os membros de uma colônia. Quem está de barriga cheia hoje pode passar fome amanhã, e ter acusações de egoísmo na própria ficha, nesse caso, é uma péssima ideia.

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