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Quase um quinto do relevo oceânico está agora mapeado

O projeto Seabed 2030 quer desvendar o se segredos do fundo do mar até a próxima década, e está conseguindo avanços impressionantes. Mas ainda falta muito – quase duas vezes a superfície de Marte.

Por Bruno Carbinatto
29 jun 2020, 13h56

O fundo do oceano acaba de se tornar um lugar um pouco menos misterioso para a humanidade. O projeto Seabed 2030, que visa mapear todo o relevo oceânico´com detalhes até o começo da próxima década, anunciou que 19% do objetivo está agora cumprido. Apesar disto, 81% do fundo do oceano permanece nebuloso – o que equivale a quase duas vezes a superfície de Marte.

O número mapeado em 2020 pode parecer pouco – sequer chega de fato a um quinto –, mas é um grande avanço científico. Quando a iniciativa foi lançada pela Fundação Nippon e pela organização internacional General Bathymetric Chart of the Oceans (GEBCO), em 2017, apenas 6% do relevo oceânico tinha sido mapeado com tecnologias consideradas detalhadas. No ano passado, esse número já havia subido para 15%, e atingiu o 19% na semana passada, quando 14,5 milhões de quilômetros quadrados foram adicionados ao mapa – uma área que equivale a quase duas Austrálias.

“Mapear” o relevo oceânico aqui significa coletar dados batiométricos – ou seja, basicamente medir a profundidade do oceano em diferentes lugres. O fundo do mar, assim como o relevo que está acima dele, é irregular, com áreas mais elevadas ou rebaixadas. A melhor maneira de medir essas diferenças é usando os chamados ecobatímetros, aparelhos colocados na parte de baixo de navios que conseguem descobrir a distância do fundo do oceano ao emitir ondas sonoras e medir o tempo que elas demoram para voltar após serem refletidas pelo solo. Esse método é o que oferece mais detalhes sobre o relevo oceânico, e são essas dados considerados para se montar o mapa global, que você confere abaixo.

 

1/5 do relevo oceânico está agora mapeado
(NIPPON FOUNDATION-GEBCO SEABED 2030 PROJECT/Divulgação)

No mapa divulgado, as partes em azul e roxo equivalem aos 19% mapeados – sendo que as partes mais claras são mais rasas, e as escuras são mais profundas, dependendo do tom. As regiões em preto são aquelas em que não há dados batiométricos coletados por ecobatímetros. Você deve ter notado que as partes mapeadas parecem com linhas retas, mas isso faz sentido, já que os dados são coletados por navios que tem suas próprias rotas. Em geral, esses navios não saem apenas para medir a profundidade do oceano (isso seria caro demais). O que acontece é que os oceanógrafos pedem carona para seus equipamentos em barcos de diversos tipos, como de expedições científicas ou até comerciais.

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Mapear o fundo de oceano é importante por diversos motivos. Os dados ajudam a entender fenômenos como a circulação oceânica, ocorrência de terremotos e o aumento do nível do mar por causa do aquecimento global, por exemplo. Além disso, a informação é crucial para a instalação de cabos e oleodutos submarinos pelo mundo.

O objetivo de completar o mapa até 2030 é bastante ambicioso, mas, segundo a GEBCO, é possível – desde que haja uma colaboração global massiva. Até o momento, 133 organizações privadas ou governamentais pelo já demonstraram apoio à iniciativa. A ideia é que cada vez mais navios participem do processo, começando pelas expedições científicas. Isso já deu muito certo, por exemplo, com as várias expedições feitas para a Antártica nos últimos tempos. Muitas levavam ecobatímetros em seus navios, o explica porque a região entre o sul do Chile e da Argentina e o continente gelado está tão azulado no mapa.

 

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