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Remédio pode curar o Zika – e evitar transmissão para bebês

Equipe do biólogo brasileiro Alysson Muotri descobre que um remédio barato, usado contra a malária há 60 anos, impede camundongos de passarem o Zika para seus filhotes na gestação. E o truque pode dar certo no ser humano.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 jan 2018, 19h22 - Publicado em 12 jan 2018, 19h13

Um grupo de cientistas da Universidade da Califórnia, liderado pelo biólogo brasileiro Alysson Muotri, descobriu uma droga que pode tanto impedir a infecção pelo vírus da Zika quanto evitar que ele seja transmitido para o feto em gestantes que já estão doentes, causando microcefalia. Os testes com células e camundongos deram certo, e a solução tem potencial para funcionar também no ser humano. 

A cloroquina, como é chamada, ficou famosa ao ser adicionada ao sal de cozinha da população da Amazônia na década de 1950 para combater um surto de malária. Seu truque é alterar o Ph (isto é, o grau de acidez) das células de forma que elas se tornem inóspitas para certos vírus. Não é comum usar medicamentos que originalmente tinham outras aplicações para combater doenças novas, mas o truque nesse caso, deu certo.

Os pesquisadores fizeram testes in vitro com sucesso – usando colônias de neurônios cultivadas especialmente para esse tipo de experimento. Depois passaram para os camundongos, que também reagiram bem ao medicamento. Fêmeas grávidas tratadas com cloroquina se tornaram imunes à doença, e tiverem filhotes saudáveis mesmo após serem expostas ao vírus. Os resultados estão em um artigo científico, publicado na Scientific Reports em novembro do ano passado. 

“O Zika pertence a um grupo de vírus – os flavivírus – que são muito resistentes a vacinas”, explica Muotri. “Demora muito tempo para desenvolver métodos profiláticos contra eles. Nós precisávamos de uma solução mais rápida. A cloroquina é um remédio já conhecido e barato, que não tem patente. Se houver outro surto de Zika no próximo verão, é possível usá-la para proteger a população.”

Alysson Muotri no laboratório, em San Diego, Califórnia. (David Paul Morris/Universidade da Califórnia/Divulgação)

Essa já é a terceira investida da equipe de Muotri contra o Zika. A epidemia eclodiu em abril de 2015, e alguns meses depois foram registrados os primeiros casos de microcefalia no interior do Ceará. A mídia, desde o início, deu como certa a associação entre a infecção das grávidas pelo vírus e o nascimento de bebês com problemas congênitos. Mas a afirmação, na época, não tinha base científica rigorosa. Se baseava unicamente numa correlação epidemológica: como os filhos com problemas nasciam de gestantes com Zika, era muito provável que a culpa fosse da doença.

Um grupo internacional de cientistas – que incluía Muotri – foi o primeiro a infectar uma camundongo fêmea com a versão brasileira do vírus – e confirmar que seus filhotes nasciam com problemas similares aos dos bebês humanos com microcefalia. As conclusões saíram em um artigo científico publicado em junho de 2016 na Nature. “Hoje nós sabemos que o Zika, quando veio da África, sofreu mutações”, explica o pesquisador. “Essas mutações fazem com que ele se replique com muito mais facilidade em células humanas. Ainda resta descobrir quais pressões evolutivas tornaram a população do nordeste do Brasil mais suscetível à doença.”

Após a primeira vitória, a equipe se dedicou a descobrir qual tática o vírus adota para infectar o cérebro do feto. Não é uma tarefa fácil: primeiro é preciso passar pela placenta, uma barreira bastante seletiva. Depois, é necessário cruzar as meninges, três membranas protetoras que envolvem o cérebro. Poucos parasitas são capazes de fazer as duas coisas.

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Foi a segunda vitória nacional. Os pesquisadores descobriram que o Zika, em estado dormente, se infiltra e pega carona nos macrófagos – células do sistema imunológico da mãe que têm acesso ao corpo do bebê. Superada essa barreira, o próximo passo do vírus é chegar ao cérebro da criança ainda nos primeiros estágios do desenvolvimento, antes que as meninges sejam capazes de impedi-lo. Quando a porta é fechada, ele já está lá dentro – um método apelidado por Muotri de “Cavalo de Tróia”.

Os três artigos provam que o Brasil está adiantado nas pesquisas sobre o vírus. “No ranking de pesquisas sobre o Zika, acredito que o Brasil esteja em segundo lugar. Só os EUA publicaram mais”, comenta Muotri. “Nós estamos muito bem, e muito disso é crédito da colaboração internacional. Os brasileiros conseguiram buscar apoio de cientistas no exterior para fazer a coisa andar mais rápido. Vitória da ciência.”

Atenção: o leitor não deve se medicar sem prescrição médica. O uso de cloroquina no combate ao vírus ainda está em fase experimental e, se vier a ser aprovado, deverá ser feito supervisão de um profissional.

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