Ser canhoto ou destro pode não ter nada a ver com o cérebro
Nova pesquisa traz evidências de que quem determina a mão de escrever (ou tocar guitarra) é a medula espinhal
Você é destro ou canhoto? De 70% a 90% das pessoas usam a mão direita, enquanto de 10% a 12% têm a mão esquerda como dominante. Essa escolha natural de usar mais um lado do que o outro intriga a ciência há muito tempo – e até hoje não existe uma resposta definitiva, embora muitos pesquisadores tivessem apostado que a chave do enigma estaria no cérebro.
Um novo estudo, conduzido por biopsicólogos da Ruhr University Bochum, na Alemanha, trouxe evidências de que o que define se você vai ser destro ou canhoto pode ser a medula espinhal. Para chegar à essa conclusão, a equipe analisou a atividade genética da medula de um bebê ainda no útero da mãe.
Em exames de ultrassonografia, médicos identificaram o desenvolvimento das mãos a partir da oitava semana de gravidez. Na 13ª semana, a criança já escolhe um polegar para chupar – ou seja, já decide qual vai ser a mão dominante.
Como os movimentos dos braços e das mãos são coordenados pelo córtex motor, os pesquisadores sempre associaram a escolha da mão com o cérebro. Mas, no embrião em desenvolvimento, quando as primeiras indicações de preferência de mão aparecem, essa parte do córtex ainda não está conectada à medula espinhal (que controla os impulsos nervosos).
“Os fetos humanos já mostram assimetrias consideráveis nos movimentos dos braços antes que o córtex motor esteja funcionalmente ligado à medula espinhal, tornando mais provável que a medula espinhal forme a base molecular da escolha de lado”, afirmou a equipe no artigo científico, publicado na revista eLife.
Com essa informação, os cientistas investigaram mais a fundo o que acontece dentro da medula. A partir do monitoramento de cinco fetos entre a oitava e a décima semana de gestação, eles descobriram que há diferenças na quantidade de genes que estão sendo expressos nos lados direito e no esquerdo da medula na oitava semana (quando as mãos estão sendo formadas).
Com essa assimetria, foi possível perceber uma atividade medular maior do lado com mais genes em relação ao outro. E isso seria o ponto de partida para determinar se a pessoa vai ser destra ou canhota.
Os especialistas afirmam, no entanto, que o estudo ainda está nos estágios iniciais, e que ainda é prematuro descartar a hipótese (e anos de trabalho de outros cientistas) de que o cérebro seja mesmo o responsável por definir sua mão de preferência.