Toda corrida, uma grande aventura
Esporte multidisciplinar exige fôlego, versatilidade econhecimento de estratégia.
Lilian Hirata
Alexandre Freitas, um atleta e empresário paulista, participava da Eco-Challenge, a maior corrida de aventura do mundo, nas Ilhas Fiji, em 2002. Hospitaleiros, moradores locais gostavam de convidar os atletas para almoçar em suas casas. Numa dessas ocasiões, Freitas quis provar a culinária típica da região e comeu um peixe de água doce oferecido por um nativo. O peixe estava contaminado por um parasita endêmico. Freitas teve uma infecção grave e passou mais de dois meses na UTI. Ainda hoje luta para recuperar a saúde. Fala e anda com dificuldade e respira com a ajuda de aparelhos.
É uma ironia que uma infecção tenha quase matado justamente Freitas, responsável por introduzir e divulgar no Brasil a corrida de aventura, um esporte que exige estratégia e planejamento para contornar os perigos que surgem durante as provas. O próprio Freitas admitiu que errou por não ter calculado o risco de experimentar uma comida caseira em uma região desconhecida, em vez de se servir de alimentos industriais.
Além de conhecimentos de estratégia, a corrida de aventura exige esforço físico e muita versatilidade do atleta, por ser um esporte multidisciplinar. Em cada prova há um conjunto de modalidades esportivas obrigatórias, como escalada, orientação (capacidade de localizar-se por meio de mapa e bússola), rapel, rafting, trekking e mountain bike. As provas são realizadas em grandes cenários naturais, como a Amazônia e as Ilhas Fiji. “É a união do esporte, da competição, do planejamento e do gosto pela natureza”, resume Rafael Reyes, da equipe Quasar Lontra.
A primeira competição mundial de corrida de aventura foi organizada pelo francês Gerard Fusil: o circuito Raid Gauloises, em 1989, na Nova Zelândia. Esse mesmo país criou, dois anos depois, a Southern Traverse. Depois vieram a Eco-Challenge, nos Estados Unidos, e a brasileira EMA (Expedição Mata Atlântica), em 1998, organizada por Alexandre Freitas.
Dependendo da competição, a corrida de aventura pode durar de seis horas a cinco dias ou mais. Em geral, as equipes são formadas por quatro pessoas, uma delas do sexo oposto. Elas recebem um mapa do local onde está a linha de chegada, mas cabe ao grupo decidir sobre o melhor caminho. Há também equipes de apoio, que fornecem suprimentos e equipamentos em cada fase. Os atletas devem estar preparados para encarar situações de tensão, cansaço, imprevistos e risco de lesões. Com um detalhe: só são premiadas as equipes que permanecerem juntas até o final. “Mais do que preparo físico, são diferenciais o companheirismo, a compreensão e a amizade”, diz Eduardo Coelho, da equipe EMA Brasil.
O alto custo dos equipamentos, a logística necessária e a disponibilidade de tempo dos atletas dificultam a organização de longas expedições. Por isso, circuitos menores, com duração de seis a dez horas, vêm sendo muito procurados. “Eles exigem menos preparo físico e técnico e são mais baratos”, diz Said Aiach Neto, organizador da Ecomotion/Pro, prova em que as equipes enfrentam o desafio de percorrer 460 quilômetros, durante sete dias, na chapada Diamantina, na Bahia. As grandes corridas brasileiras são a EMA (que não aconteceu neste ano, devido ao estado de saúde de Freitas) e a Ecomotion/Pro.
Serviço
SAIBA MAIS
Informações sobre os circuitos e indicação de cursos especializados nas modalidades exigidas nas corridas:
Sociedade Brasileira de Corridas de Aventura (www.corridasdeaventura.com.br), tel. (11) 5506-8349.
Expedição Mata Atlântica – EMA (www.ema.com.br).
Ecomotion (www.ecomotion.com.br), tel. (11) 3044-0303.
Informações sobre as principais provas internacionais:
https://www.southerntraverse.com
EQUIPAMENTOS BÁSICOS
Os gastos com equipamentos e acessórios saem em torno de R$ 4 mil, incluindo lanterna de cabeça (R$ 222, marca Black Diamond Gemini ), bússola (R$ 125, Suunto M3), capacete (R$ 159, Trek Vapor), sinalizador de luz vermelha (R$ 96, Coghlans Estrobo), mosquetões com travas (R$ 65,50 cada um, Black Diamond Airlock 2) e mountain bike (R$ 2 234, Scott Tampico).
DICAS DE ALIMENTAÇÃO
Prefira alimentos industriais ou de origem conhecida. É preciso estudar tipo e quantidade de comida a levar – isso depende da duração da prova e da região onde ela ocorrerá. Podem-se incluir batata cozida, frutas secas, chocolate, barrinha protéica e carboidrato (gel ou pó). Para corridas de longo percurso, é bom levar também vitaminas A, B, C e E prescritas por médico ou nutricionista, BCAA (aminoácido) e comida desidratada.
É importante também levar água e purificador. “Passo sede, mas não bebo água sem ser tratada”, diz o atleta Eduardo Coelho.