Todos contra o lixo tóxico
Uma ONG paranaense criou uma rede de recolhimento de baterias de celular. Evitou assim que os metais pesados fossem parar na água que você bebe e nos vegetais que você come
Leandro Narloch, de Curitiba, PR
São apenas duas pessoas, auxiliadas por um computador e uma linha telefônica. Mas conseguiram evitar que mais de 50 000 baterias de celular usadas na região Sul terminassem em lixões comuns, prontinhas para contaminar o solo e os lençóis freáticos. Isso tudo desde 1999, quando a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS), uma das ONGs mais atuantes do Paraná, fechou uma parceira com a Tim Sul, a maior operadora de telefonia celular da região, criando a campanha Recarregue o Planeta.
A idéia de arrecadar as baterias surgiu logo depois que o Conselho Nacional do Meio Ambiente baixou a Resolução 257, que obriga os fabricantes de pilhas e baterias a dar um jeito nos produtos depois de consumidos. “Contribuímos para que as baterias tivessem um destino adequado quase um ano antes de a lei entrar em vigor”, diz Carolina Soares Paiva, coordenadora da campanha.
Baterias de celular transformam-se em caixinhas de veneno se despejadas em lixões a céu aberto. Delas pode vazar mercúrio, cádmio e chumbo. Esses metais pesados, diluídos na água, acabam absorvidos pelas raízes das plantas, chegando ao seu alface, caro leitor, ou indo direto para a caixa d’água. Os efeitos no organismo são cumulativos, podem levar até 30 anos para se manifestar e vão de náuseas e vômitos a problemas no sistema nervoso.
Na campanha, cada parceiro tem um papel determinado. A Tim ficou responsável pela confecção das filipetas, dos brindes e – o mais importante – das urnas onde os consumidores depositam as baterias velhas. Também colocou todas as lojas do Sul do Brasil à disposição, tornando possível a criação de uma rede para coletar o material. Hoje, depois de três anos, há uma urna em cada um dos 828 pontos-de-venda de aparelhos celulares Tim dos três Estados. O sucesso da campanha já se espalhou para universidades, empresas e indústrias.
À SPVS, cabe o papel de orientar a logística do recolhimento do material. Quando a loja acumula 25 baterias em sua urna, a ONG comunica a transportadora, que tem um prazo de dez dias para buscar as baterias. A Remac Transportes, outra empresa parceira da campanha, encarrega-se do armazenamento.
Mas este ainda não é o destino final das danadas. De três em três meses, quando já se acumulam na transportadora de 10 000 a 15 000 unidades, a SPVS, com uma equipe de voluntários, separa todas elas por marcas. Cada uma é colocada num saquinho de tecido absorvente, para prevenir possíveis vazamentos, e depositada num pacote a ser lacrado. Só então são levadas para os fabricantes, que ou encapsulam em concreto ou reciclam alguns componentes. O presente às empresas serve como um aviso: tem gente preocupada com o lixo tóxico produzido no Brasil.
Os finalistas
Um finalista de peso, que chegou perto do prêmio, foi o Instituto Recicle Milhões de Vidas. Com uma ampla política de parcerias – que vão do Grupo Pão de Açúcar até a Igreja Universal do Reino de Deus, passando pelo Corpo de Bombeiros –, a ONG transformou a coleta seletiva de lixo em uma realidade em São Paulo. A Associação de Defesa do Meio Ambiente de Avaré também chegou à final graças ao idealismo de seus membros. A entidade do interior paulista mobilizou a cidade em torno da causa da coleta seletiva.