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Toxina psicodélica de sapo reduz sintomas de depressão e ansiedade em camundongos

Veneno do sapo bufo possui efeitos psicoativos, e, apesar do seu risco à saúde, está sendo estudado como possível tratamento para problemas psicológicos.

Por Caio César Pereira
18 Maio 2024, 14h00

Uma toxina encontrada em um sapo nativo americano possui propriedades psicoativas que demonstraram capacidade para tratar sintomas de depressão e ansiedade em ratos, segundo um novo estudo. A descoberta intrigante foi feita por pesquisadores do Hospital Mount Sinai e da Universidade Columbia, nos EUA.

Nos últimos anos, as pesquisa com substâncias psicodélicas para tratamentos médicos voltaram à tona com força – como explicamos em detalhes nesta matéria de capa aqui na Super. Em resumo, a ideia dos cientistas é testar substâncias psicodélicas, como o MDMA (a molécula do ecstasy) e a psilocibina, para tratar pessoas com transtornos psíquicos, como o estresse pós-traumático e depressão.

O novo estudo, publicado na revista Nature, mostra que um composto modificado da secreção venenosa do Sapo do Rio Colorado ou sapo bufo (Incilius alvarius) pode ter, além das características psicodélicas, efeitos antidepressivos e até ansiolíticos. 

Os efeitos psicoativos da toxina não são uma novidade. A secreção do sapo é famosa pelas suas propriedades alucinógenos – mas é tóxica, e pode deixar doentes pessoas que entram em contato direto com ela. 

Mesmo com o risco, muitas pessoas costumam ir atrás do sapinho para “usá-lo” como droga, de forma que autoridades dos parques nacionais dos EUA emitiram um comunicado alertando para que os turistas não lambam os anfíbios. A popularidade psicodélica do veneno do sapo é tanta que ele já se encontra ameaçado de extinção no Novo México, e já extinto em partes da Califórnia, muito por causa da intervenção humana.

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A substância é expelida por glândulas na pele do sapo sempre que ele se sente ameaçado ou assustado. A toxina possui um composto chamado 5-MeO-DMT, um alucinógeno similar ao psicodélico psilocibina (presente nos famosos cogumelos alucinógenos). 

Para testar de fato os efeitos antidepressivos e ansiolíticos do composto, os pesquisadores modificaram a molécula de  5-MeO-DMT em outro composto parecido (4-F,5-MeO-PyrT), e a testou em camundongos. Eles aplicaram o composto modificado em bichinhos estressados, e observaram quais os efeitos que ele tinha no comportamento dos animais.

Os resultados mostraram que, após a ingestão do composto modificado, os animais passaram mais tempo com outros camundongos e beberam mais água açucarada, – o que de acordo com os pesquisadores, são evidência de níveis reduzidos de ansiedade e depressão.

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Os estudos, entretanto, ainda estão nos seus estados iniciais. Os riscos de intoxicação com o veneno do sapo (como vômitos, convulsões, ansiedade e morte) ainda são grandes, e ainda serão necessárias ainda mais pesquisas de segurança e eficácia até que se possa considerar o uso humano.

Mas Audrey Warren, bioquímica da Mount Sinai e coautora do estudo, é otimista e acredita que, no futuro, psicodélicos como o composto modificado do veneno do sapo poderão ser utilizados para o tratamento de depressão, ansiedade, e outros problemas psiquiátricos.

“É nossa esperança que, no futuro, alguém possa usar os resultados de nosso estudo para ajudar a projetar novos antidepressivos para humanos, mas isso certamente ainda está longe”, contou em entrevista ao portal New Scientist.

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