Uma ajuda para crescer e multiplicar
A moderna técnica da injeção intracitoplasmática do espermatozóide (ICSI) aumenta as chances de gravidez nos casos de infertilidade masculina
Maurício Oliveira
As primeiras técnicas de reprodução assistida surgiram sobretudo para combater a dificuldade das mulheres para engravidar. A fertilização in vitro, processo em que o sêmen entra em contato com os óvulos fora do corpo da mulher, surgiu nos anos 80 e trouxe esperança para os casais que enfrentavam o problema – com bons resultados em muitos casos. Havia, no entanto, uma situação que continuava praticamente insolúvel: quando era o homem quem tinha o problema de fertilidade. Isso porque o processo de fertilização in vitro dependia da disponibilidade de espermatozóides com um patamar mínimo de quantidade e qualidade.
Em 1992, uma nova técnica surgiu para superar esse problema: a injeção intracitoplasmática de espermatozóides, conhecida pela sigla ICSI, em inglês. O método foi desenvolvido por uma equipe do Centro de Medicina Reprodutiva da Universidade de Bruxelas, na Bélgica, liderada pelo pesquisador André van Steirteghem, reconhecido como uma das maiores autoridades mundiais em reprodução assistida.
Por essa técnica, um espermatozóide é escolhido “a dedo” e extraído diretamente do testículo ou do epidídimo (reservatório de espermatozóides localizado na parte superior dos testículos) e injetado no citoplasma do ovócito. Além de ser aplicado em casos de comprometimento sério na produção de espermatozóides e mesmo em homens azoospérmicos (ausência de espermatozóides na ejaculação), o método serve para casos em que o parceiro fez vasectomia – já que, ao contrário do que se imaginava, esse procedimento cirúrgico não interrompe a produção de espermatozóides. O restante do processo segue como na fertilização in vitro convencional. Uma vez obtida a fecundação, dois ou três embriões são transferidos para o útero, entre um e três dias depois da coleta. Para aumentar as chances de sucesso, o médico responsável pode esperar mais alguns dias, até que os embriões cheguem ao blastocisto, estágio mais avançado que o embrião pode atingir fora do corpo da mulher.
Embora ainda seja cara – cada tentativa custa cerca de 5 000 dólares –, a ICSI tem como vantagem uma taxa de êxito considerada alta, entre 25% e 40%. Alguns fatores interferem diretamente nesse percentual, como a idade da mãe: quanto mais avançada, menores as chances de sucesso.
Alta dose
Por que a reproduçãoassistida aumenta onúmero de gêmeos
Um dos “riscos” da reprodução assistida – que, para casais com histórico de dificuldade para engravidar, acaba geralmente sendo encarado como uma benção – é a alta incidência de gestações múltiplas. Enquanto em uma gestação espontânea a probabilidade de ter mais de um bebê é pouco superior a 1%, cerca de 30% dos casos de reprodução assistida resultam em gêmeos. Desse total, são gerados dois bebês em 60% dos casos, e nos demais, três ou mais crianças. Isso ocorre porque, apesar dos avanços da medicina reprodutiva desde o nascimento do primeiro bebê de proveta, em 1978, o processo de fertilização in vitro não deixa de ser uma aposta de risco: para aumentar as chances de sucesso, o especialista costuma optar por transferir ao útero mais de um embrião – na maioria das vezes, transferem-se três ou quatro embriões. Quando mais de um vinga, o casal terá a surpresa de esperar pela chegada não apenas do sonhado bebê, mas de dois, três ou até quatro deles. No entanto, quanto maior o número de bebês, mais precoce será o nascimento, aumentando os riscos de abortos espontâneos e as complicações no parto. Outra diferença com relação à maior parte dos casos naturais de gêmeos é que, na reprodução assistida, as crianças não são idênticas, já que se desenvolvem em embriões distintos.
O impacto da descoberta
A ICSI é a técnica de reprodução assistida que supera os problemas masculinos de fertilidade, última barreira para a aplicação com sucesso da reprodução assistida. Assim, as possibilidades de casais com dificuldades para ter filhos aumentaram consideravelmente