Veja um robô feito com origami de DNA mexer o braço
Ele tem metade da largura de um fio de cabelo – e pode ser usado, no futuro, para criar uma linha de produção de moléculas para a indústria farmacêutica
O DNA tem uma função nobre: guardar o manual de instruções usado para construir eu, você, elefantes, bactérias e todo o resto da vida na Terra. Mas isso, é claro, não impede ninguém de usá-lo para brincar de LEGO no laboratório. Depois de usar material genético para fabricar um disco rígido – em 2016, a Microsoft salvou 202 Mb de informação em uma única molécula –, cientistas deram o próximo passo e criaram os primeiros robôs de bases nitrogenadas (com direito até a controle remoto).
O bichinho, que você vê no vídeo abaixo, pode não ser o ápice da inteligência artificial, mas é interessante por outros motivos. O braço (a estrutura representada pela cor roxa) tem 25 nanômetros de comprimento – quatro vezes mais curto que a largura de um fio de cabelo. Ele é feito por duas cadeias de DNA paralelas, “montadas” de forma a ficarem tão rígidas quanto possível, e é atrelado à base por um pedacinho de DNA menor e mais flexível, que serve de eixo. A base em si é maior que muito apartamento em São Paulo: 3025 nanômetros quadrados de DNA – caberiam alguns milhares delas na unha do seu dedinho da mão.
Para fazer o braço girar, os pesquisadores da Universidade Técnica de Munique usam campos elétricos. Por incrível que pareça, as moléculas que compõe o código genético têm carga negativa, e são atraídas ou afastadas de acordo com a polaridade do campo elétrica a que são expostas (grosso modo, o mesmo motivo pelo qual alguns ímãs se atraem e outros se repelem). O movimento ocorre em milésimos de segundo, um milhão de vezes mais rápido que as tecnologias de movimentação de DNA disponíveis até então. O alcance do braço é limitado por “travas” – as moléculas de DNA amarelinhas que você no vídeo.
O experimento foi relatado na Science. A “filmagem” nessa escala só é possível, é claro, usando um tipo especial de microscópio. Esse método de dobragem cuidadosa de DNA já foi comparado a origami, e usado, entre outras coisas, para pintar uma Mona Lisa e ursinhos de pelúcia 3D em escala molecular.
Brincadeiras a parte, a melhor aplicação prática para os nanorrobôs está justamente na linha de montagem – só que de remédios, e não carros. Os pesquisadores afirmam que, num futuro próximo, será possível utilizá-los para construir os princípios ativos de medicamentos em indústrias farmacêuticas microscópicas, molécula por molécula. Já dá até para imaginar a cena: “João, cuidado para não deixar a fábrica cair.” “Não se preocupe, ela está no meu bolso.”