A era Temer acabou ontem. Começa agora o governo Meirelles
A gente passou tanto tempo falando das pedaladas que o assunto mais importante ficou de lado: o ajuste fiscal – os cortes de gastos do Estado, que o próprio governo Dilma vinha tentando implementar desde 2015. Dilma começou o trabalho sujo, chamando Joaquim Levy para a fazenda. As primeiras propostas de ajuste não passaram pelo […]
A gente passou tanto tempo falando das pedaladas que o assunto mais importante ficou de lado: o ajuste fiscal – os cortes de gastos do Estado, que o próprio governo Dilma vinha tentando implementar desde 2015.
Dilma começou o trabalho sujo, chamando Joaquim Levy para a fazenda. As primeiras propostas de ajuste não passaram pelo Congresso, rechaçadas pela oposição e pela situação com a mesma veemência economicamente analfabeta. Dilma não ajudou em nada: delegou ao politicamente inepto Levy a tarefa de ir ao Congresso defender, com voz sua desafinada e claudicante, a porra do ajuste.
Levy não aguentou o tranco. Pediu pra sair. E Dilma jogou a toalha: chamou o inoperante e ultrapassado Nelson Barbosa para a Fazenda – numa amostra de que não havia ninguém menos pior disposto a segurar o rojão.
Veio a primeira fase do impeachment, Temer assumiu interinamente, e surpresa: Henrique Meirelles, o maior nome da economia do governo Lula, assumiu a Fazenda. Meirelles aceitou a bronca porque tem ambições para 2018 (igual Fernando Henrique, Ministro da Fazenda de Itamar, tinha para 1994). Meirelles sabia que o ajuste fiscal era necessário. E que arrochos assim são impopulares por natureza, já que significam mais demissões no serviço público e mais cortes em programas sociais. Mas o peso político da coisa toda cairia sobre Temer, então tudo certo: a pista ficaria livre para ele se candidatar em 2018.
Mas parece que falta combinar com Temer. Ainda interino, Michel aumentou um gasto social, aumentando o Bolsa Família em 12,5%, contra os 9% que Dilma tinha proposto, e elevou o teto salarial do funcionalismo público em 16,4% – sendo que esse teto já tinha subido 14,6% em 2015 – numa manobra que abre as comportas para um efeito cascata nos gastos de todas as esferas públicas, sangrando coisa de R$ 4 bilhões por ano só com o regime de engorda salarial do andar de cima, os primeiros a receber a benesse integralmente. Meirelles ficou quieto.
Mas agora, efetivado para valer na Fazenda, não deve mais deixar barato as pavonices do presidente-estepe. Se Temer seguir com medidas populistas e oportunistas, Meirelles vai jogar a toalha. O ajuste fiscal voltará à estaca zero, e a economia vai continuar no mesmo atoleiro. Que a partir de hoje, então, termine a era Temer. E comece a nova gestão de fato: o governo Meirelles.