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Alexandre Versignassi

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.

A extinção do etanol

A frota de carros subiu 20% nos últimos três anos. São 12 milhões a mais. Quase todos com motor flex. Nisso, o consumo de gasolina cresceu 50%. E o de álcool caiu 52% – de 23 bilhões de litros para 11 bilhões. Ridículo. E a corrida ladeira abaixo continua firme: 2012 deve fechar abaixo dos 9 […]

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 dez 2016, 09h49 - Publicado em 22 fev 2013, 20h17

A frota de carros subiu 20% nos últimos três anos. São 12 milhões a mais. Quase todos com motor flex. Nisso, o consumo de gasolina cresceu 50%. E o de álcool caiu 52% – de 23 bilhões de litros para 11 bilhões. Ridículo.

E a corrida ladeira abaixo continua firme: 2012 deve fechar abaixo dos 9 bilhões de litros. Desse jeito, produzir álcool no Brasil virou um mico. O lucro dos usineiros foi para o espaço. E a produção, naturalmente, despencou. Tanto que já tivemos de importar bilhões de litros de etanol de milho dos EUA (para suprir os 20% de álcool obrigatórios na composição da gasolina).

Para um país que até outro dia se dizia a “Arábia Saudita do etanol”, é uma situação constrangedora ter de importar álcool de tortilla dos americanos.

Culpa do governo. Dilma e Mantega seguram há tempos o preço da gasolina para conter a inflação. Nisso ficou mais barato usar gasolina do que álcool. Com a diminuição no consumo de etanol, os usineiros agora preferem usar a cana deles para fazer açúcar. E não investem mais em aumento de produção. Lógico.
Pior: nossas refinarias não deram conta dessa demanda por gasolina. E entramos numa situação patética: sete anos depois de o governo declarar nossa autosufiência em petróleo, precisamos importar combustível a rodo. Hoje são mais de 3 bilhões de litros de gasolina por ano, contra 500 milhões em 2010. De cada 100 litros de derivados de petróleo que consumimos, 15 vêm do exterior.
Quem paga o pato aí é a Petrobras. Como Dilma não é a “presidenta” do planeta, não apita nos preços lá de fora. E a gasolina e o diesel estão mais caros no mercado internacional do que aqui. Para manter os preços inalterados nas bombas, a Petrobras é obrigada a comprar gasolina (e diesel) a R$ 4 para vender por R$ 3. Aí não tem quem aguente. O prejuízo com as importações de gasolina foi de R$ 5 bilhões nos últimos dois anos.
Tudo isso num país que há 10 anos estava perto de tornar a gasolina obsoleta, de ter uma frota 100% movida a álcool.
Com o diesel, o rombo foi maior ainda: R$ 17 bilhões – aí o buraco é mais embaixo: não dá para substituir diesel por álcool. Mas esse vazamento de dinheiro, por si só, também afeta o etanol. A própria Petrobras cortou investimentos na área, para aliviar o caixa. Um dos projetos de que a empresa abriu mão, por exemplo, foi o de um etanolduto de mais de mil quilômetros ligando regiões produtoras em vários Estados – o que diminuiria drasticamente os custos de transporte do álcool.
Assim fica difícil. E agora? O primeiro passo é liberar totalmente o preço da gasolina. Seria indigesto num primeiro momento, mas a indústria do álcool ganharia força, já que uma gasolina mais cara aumentaria a demanda por biocombustível. Sem falar que é importante a Petrobras se livrar de pelo menos parte das perdas. Porque se ela não der conta de continuar importando tanto para vender com prejuízo e, para completar, a produção de etanol definhar de vez, uma hora pode até faltar combustível nos postos. Aí o nosso crescimento econômico, que já está essa beleza toda, acabaria pior ainda: em risco de extinção.

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