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Alexandre Versignassi

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.

Como os mais pobres estão pagando a farra da corrupção

Dois terços dos pagamentos da Previdência são de um salário mínimo ou menos, e não há como salvar os pobres da reforma. Mas se não fosse a corrupção, daria.

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Atualizado em 6 Maio 2017, 16h38 - Publicado em 5 Maio 2017, 14h41

O gasto total da Previdência previsto para 2017 é de R$ 562 bilhões, contra uma arrecadação de R$ 381bilhões. Isso vai gerar um déficit de R$ 181 bi. É mais do que todo o orçamento da Saúde (R$ 115 bilhões) ou o da Educação (R$ 107 bilhões). Então é lógico: alguma coisa precisa mudar. Só acho que quem passa a vida ganhando dois, três salários mínimos, deveria receber alguma atenção especial – talvez continuar tendo acesso a alguma aposentadoria após 15 anos de contribuição, em vez de ter de pagar INSS por 25 anos, como está na proposta da reforma; talvez lhes permitir que recebam algo antes dos 60 e tantos anos.

De onde sairia o dinheiro? Não é simples. 68% dos pagamentos da Previdência são de um salário mínimo ou menos. Não há como salvar os mais pobres da reforma e cobrir o rombo ao mesmo tempo. Mas tem um detalhe: não fosse a corrupção, daria. Só a diferença entre o orçamento inicial e o atual de 19 obras ligadas à Lava Jato já dá R$ 162 bilhões (R$ 135 bi projetados contra R$ 297 consumidos de fato, segundo um levantamento feito pelo UOL em 2016). Isso é quase todo o déficit da Previdência projetado para este ano – e R$ 20 bilhões a mais que o rombo do ano passado. Não significa que seja tudo superfaturamento, claro. Além de obras ficarem mesmo mais caras com o tempo, boa parte do superfaturamento de praxe já está embutido no orçamento inicial. Não estou comparando perdas que rolaram por mais de uma década com um déficit anual, que, se nada for feito, só vai crescer ano a ano.

Não. A questão não é essa. O ponto é que esse cálculo dá uma medida do volume de dinheiro público que chafurda no lamaçal da corrução – e estamos falando só de 19 obras. Somando isso à avalanche de dinheiro desperdiçado em emprétimos irresponsáveis via BNDES e isenções fiscais sem pé nem cabeça, temos aí um rombo trilionário. A ausência de tal rombo talvez não impedisse a necessidade de uma reforma na Previdência, mas certamente deixaria mais portas abertas para evitar medidas abusivas – e deixar um grande naco da população mais pobre sem aposentadoria, ou qualquer tipo de assistência financeira na velhice, é, sim, abusivo. No fundo, quem está pagando a conta pela farra da corrupção e da incompetência são eles mesmos: os que acordam às 5h da manhã para pegar ônibus lotado em troca de salários que não chegam até o fim do mês, que dirá até o fim da vida. São eles os grandes fiadores da bandalheira.

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