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Alexandre Versignassi

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.

Precisa mesmo mostrar a cara do atirador de Orlando o tempo todo?

Do ponto de vista de quem edita notícias, precisa. As pessoas querem ver a cara do matador. Vai fazer o quê? Fingir que o cara não existe? Mas espera um pouco. Ontem mesmo na TV um apresentador falava do sofrimento dos parentes e dos amigos das vítimas. O repórter abraçava um rapaz que, às lágrimas, […]

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 set 2024, 11h24 - Publicado em 15 jun 2016, 14h40

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Do ponto de vista de quem edita notícias, precisa. As pessoas querem ver a cara do matador. Vai fazer o quê? Fingir que o cara não existe?

Mas espera um pouco.

Ontem mesmo na TV um apresentador falava do sofrimento dos parentes e dos amigos das vítimas. O repórter abraçava um rapaz que, às lágrimas, dizia não ter notícias de um amigo desde a noite da chacina. Aí, enquanto o áudio segue, vem uma torrente de selfies do atirador. As mesmas selfies que aparecem o tempo todo no noticiário desde o começo da semana.

Precisa disso? Claro que não. A informação sobre o rosto do assassino já era conhecida. Nada justificava mostrar um álbum todo do indivíduo. Exposição post mortem é tudo o que esses caras desejam antes de cometer o que cometem. Transformar todo e qualquer terrorista de merda num rosto conhecido mundialmente só ajuda a trazer cada vez mais malucos para esse bonde.

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Não estou pedindo censura. Se tiver relevância mostrar a cara de um desses sujeitos, ok. Mostra. Mas não é o que está acontecendo. Na Folha de hoje, por exemplo, uma foto do atirador ilustra um artigo sobre a feira de armas de Jacksonville, na mesma Flórida onde aconteceu a chacina. Aqui:

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Bom, qualquer foto de arquivo de qualquer feira de armas ilustraria melhor o (ótimo) artigo que um catzo de uma selfie do artrópode em questão fazendo bico – uma selfie da mesma série que está todo mundo reproduzindo o tempo todo (e que eu mesmo só tinha como colocar aqui com um “x” na cara do boçal).  

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No fim, acho que não faria mal alguma espécie de acordo entre meios de comunicação para não mostrar a cara desses sujeitos. Pelo menos não TANTO.

Porque isso, de novo, só reforça para alguns milhões de acéfalos que cometer assassinato em massa é um jeito eficaz de sair de uma vida medíocre e entrar para a história. Pior: isso também joga gasolina no ódio contra qualquer um que nasceu com traços faciais que remetam a etnias do Oriente Médio – tipo eu mais uns dois bilhões de indivíduos.

E se nada disso for motivo para parar de mostrar as poses que esse entulho humano fazia para o celular, beleza. Vamos parar, então, por respeito aos amigos e parentes das vítimas; e, lógico, por consideração a todos os que de alguma forma se sentiram tocados pelo episódio – todo mundo, basicamente.

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Já deu. Que a imagem desse cara volte para o limbo, de onde nunca deveria ter saído. E de onde, para todos os efeitos, jamais saiu.     

 

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PS: a versão online do artigo da Folha sobre a feira de Jacksonville, assinado pelo Álvaro Pereira Júnior, está ilustrada justamente com imagens de arquivo de outras feiras de armas nos EUA. Aí sim.

 

 

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