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Bruno Garattoni

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Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.

EUA autorizam teste com mosquitos geneticamente modificados

Empresa inglesa Oxitec poderá soltar na Flórida até 20 milhões de mosquitos OX5034, que foram criados para erradicar o Aedes aegypti; entenda a tecnologia, que já foi testada no Brasil e possui uma deficiência crítica

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Atualizado em 6 set 2024, 09h33 - Publicado em 4 Maio 2021, 16h57

Empresa inglesa Oxitec poderá soltar na Flórida até 20 milhões de mosquitos OX5034, que foram criados para erradicar o Aedes aegypti; entenda a tecnologia, que já foi testada no Brasil e possui uma deficiência crítica

A empresa inglesa Oxitec obteve autorização para soltar seu mosquito OX5034 na Flórida, onde o Aedes aegypti é considerado um problema, causando casos de dengue e zika. O teste começou no final de abril, quando caixas contendo ovos de OX5034 foram colocados em seis pontos da região. Os insetos devem começar a eclodir na primeira quinzena de maio. Cerca de 12 mil mosquitos serão liberados por semana durante os próximos três meses. Na segunda fase, que deve ocorrer até o final do ano, a Oxitec pretende soltar outros 20 milhões ao longo de quatro meses. 

A iniciativa tem sofrido forte resistência de associações de moradores e políticos locais. A Oxitec solicitou autorização para uso do mosquito na Flórida em novembro de 2011. E só agora, quase dez anos depois, recebeu permissão para liberar o inseto.

Em 2014, a empresa (uma spin-off que na Universidade de Oxford, que hoje pertence a investidores americanos) inaugurou uma fábrica em Campinas para cultivar o OX513, um antecessor do OX5034. A ideia – que explicamos detalhadamente numa reportagem da época – era soltar esse inseto na natureza, onde ele iria competir com o Aedes aegypti normal, acasalar com as fêmeas e gerar descendentes enfraquecidos, que morreriam antes de chegar à idade adulta. Ao longo do tempo, isso dizimaria a população de A. aegypti. 

O OX513 chegou a ser liberado nas cidades de Jacobina e Juazeiro, ambas na Bahia, onde a população de A. aegypti caiu mais de 90% nas áreas tratadas. Mas foram testes relativamente pequenos. O mosquito modificado nunca se mostrou uma opção viável para o combate ao Aedes em larga escala, por um motivo simples: ele é mais fraco que o mosquito natural, e por isso tem de ser liberado em enormes quantidades para que consiga competir com ele. 

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Somente os machos de OX513 (ou 5034), que não picam, são liberados. Eles só conseguem se reproduzir com as fêmeas se estiverem em maioria: é necessário soltar dez deles para cada Aedes normal presente no ambiente. Em Jacobina, por exemplo, a Oxitec liberou 1,8 milhão de mosquitos por mês, durante 27 meses – e estamos falando de uma cidade pequena, com 80 mil habitantes. Imagine a quantidade de mosquitos que seria necessária em lugares maiores. Acaba sendo inviável. Por isso, o produto da Oxitec nunca pegou. Ela chegou a abrir uma segunda fábrica em Piracicaba, cidade onde o mosquito também foi testado, mas decidiu fechá-la em 2018.   

Os mosquitos da Oxitec possuem duas alterações genéticas. A primeira faz com que eles produzam uma proteína, a DsRed2, com pigmento vermelho – isso serve como identificação visual, ajudando a diferenciar o inseto dos Aedes naturais. A segunda modificação é a mais importante. Ela faz o mosquito produzir a tTAV, ou “proteína transativadora de tetraciclina”, que funciona como mecanismo de segurança. O inseto só é capaz de sobreviver se for alimentado com tetraciclina (um antibiótico comum). Quando ele é solto, e deixa de ter acesso a essa substância, a tTAV desencadeia um processo degenerativo – e após 4 dias, em média, o mosquito modificado morre.

Essa característica é transmitida aos descendentes: os filhotes de OX513 (e de OX5034) já nascem dependentes de tetraciclina, e morrem rapidamente se não tiverem acesso a ela. Em tese, isso impede que o mosquito da Oxitec se reproduza de forma descontrolada na natureza, ou que seus genes acabem incorporados à população de Aedes natural. Mas, em 2019, um estudo publicado na revista Scientific Reports por um conjunto de cientistas brasileiros constatou exatamente isso: dependendo do local da coleta, 10% a 60% dos Aedes aegypti de Jacobina, na Bahia, haviam incorporado genes do OX513.

Na época, a Oxitec criticou o estudo. A empresa não negou sua principal conclusão, mas disse que o resultado era normal e esperado – e a presença de genes do OX513 na natureza “declinou com o tempo, depois que as liberações [de mosquitos] cessaram”.  

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