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Bruno Garattoni

Por Bruno Garattoni Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.

Google TV vai funcionar no Brasil. Mas não como você pensa.

Como vcs já devem saber (e como a gente tinha antecipado em março), o Google decidiu entrar no mundo da televisão. No finzinho da semana passada, anunciou oficialmente a criação do Google TV – uma plataforma de tv digital que está sendo desenvolvida junto com Sony, Intel e Logitech, e deve chegar ao mercado nos próximos […]

Por Bruno Garattoni Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 dez 2016, 09h45 - Publicado em 25 Maio 2010, 12h54

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Como vcs já devem saber (e como a gente tinha antecipado em março), o Google decidiu entrar no mundo da televisão. No finzinho da semana passada, anunciou oficialmente a criação do Google TV – uma plataforma de tv digital que está sendo desenvolvida junto com Sony, Intel e Logitech, e deve chegar ao mercado nos próximos meses. Se você quiser o Google TV, terá duas opções: ou compra uma televisão da Sony, que virá com o sistema embutido, ou compra um aparelho de US$ 150 da Logitech, que se conecta ao seu televisor atual.

E pra que serve o Google TV? O que oferece? Basicamente, vídeo pela internet. É uma maneira mais conveniente de assistir aos serviços de vídeo online, como Hulu, Netflix (que já roda no Xbox 360 e no PS3) e os próprios sites da emissoras de TV – que, cada vez mais, oferecem sua programação online. E o Google TV também conversa com o decodificador da sua TV a cabo. Ou seja: ele junta, numa só lista, todos os canais da internet e da TV paga.

É bem legal mesmo (e isso sem falar em outras coisas incríveis, como tv social e interatividade, sobre os quais você lerá na próxima SUPER). O único problema é que, no Brasil, o Google TV não será 100%. Por dois motivos:

1. Os serviços de streaming não vão funcionar. Praticamente todos os serviços de vídeo pela internet são restritos a quem mora nos EUA. Se você tentar acessar o Hulu, o Netflix ou o BBC iPlayer, para citar apenas três exemplos, não vai conseguir – uma mensagem dirá que o vídeo “não está disponível” para a sua área. Já tentou comprar séries de TV no iTunes? Até dá, mas você tem que enganar o sistema (é preciso usar um gift card e fingir que mora nos EUA).

Isso acontece porque as emissoras gringas não querem que você acesse o conteúdo delas. Preferem vender seus programas e séries para as emissoras locais -abertas e por assinatura. Mesmo nos casos em que é possível acessar o conteúdo (usando um proxy, por exemplo), existe um problema central: os vídeos por streaming não têm legendas. Então, a menos que você seja fluente em inglês, terá problemas.

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2. A TV a cabo também não. Para ver TV paga, você usa um decodificador. Isso acontece porque, para evitar a pirataria, os canais a cabo são codificados – e só o decoder da própria operadora consegue desembaralhá-los. A única maneira de fazer o Google TV reconhecer os canais da TV a cabo é por meio de um adaptador chamado IR blaster – que transmite comandos para o decoder da tv paga. É barato: custa menos de US$ 10.

O problema é que, como cada operadora usa seu próprio aparelho, não existe um padrão comum (até existe, e se chama Tru2Way – mas só nos EUA, e nem por lá pegou. Qualquer dia falamos sobre isso). Então, o Google teria de desenvolver centenas de versões do IR blaster, uma para cada modelo de decoder usado pelas as operadoras de tv paga de todo o mundo. Não é impossível, mas é difícil. E considerando que o Brasil não é prioridade, pode demorar muito. Se as operadoras brasileiras quiserem, podem tentar fazer isso por conta própria (é só escrever um aplicativo de Android). Mas tenho dúvidas quanto a isso.

3. E agora? Com todas essas limitações, para que o Google TV vai servir no Brasil? Inicialmente, pra duas coisas: navegar na internet pela TV (bacana, mas dispensável) e ver vídeos baixados do BitTorrent (coisa que você já pode fazer, hoje, com um DVD player de R$ 200). É pouco.

Então podemos desistir do Google TV? Não. Lembra-se de quando as gravadoras não queriam vender música pela internet, e a Apple conseguiu convencê-las a isso? Se existe uma empresa capaz de mudar o mercado de TV, forçá-lo a abrir seu conteúdo e rever práticas antigas (como vender programação em pacotes de canais), é o Google. E está na hora mesmo. Do contrário, a popularização dos downloads ilegais fará na indústria de TV o mesmo que provocou na indústria fonográfica – um enorme estrago. E não vai demorar.

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