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Bruno Garattoni

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Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.

Homem ficou com o coronavírus no organismo por 218 dias

Paciente de 40 anos, que foi internado em São Paulo, tinha o sistema imunológico debilitado; isso levou à persistência do vírus, que sofreu 13 mutações dentro do corpo dele; infecções superprolongadas podem ser a origem de novas variantes do Sars-CoV-2

Por Bruno Garattoni Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 6 set 2024, 09h31 - Publicado em 23 jun 2021, 16h52

Paciente de 40 anos, que foi internado em São Paulo, tinha o sistema imunológico debilitado; isso levou à persistência do vírus, que sofreu 13 mutações dentro do corpo dele; infecções superprolongadas podem ser a origem de novas variantes do Sars-CoV-2

Em novembro do ano passado, o caso de um homem de 45 anos chamou a atenção da comunidade científica. Esse paciente, que foi tratado num hospital de Boston, ficou com o Sars-CoV-2 no organismo durante 154 dias – e o vírus sofreu 66 mutações no corpo dele. Agora, um grupo de pesquisadores da USP, dos hospitais Sírio-Libanês e Nove de Julho, da Imperial College London e da Universidade de Oxford relatou um caso similar, mas com infecção ainda mais prolongada: um brasileiro, de aproximadamente 40 anos, que ficou com o coronavírus durante 218 dias.

Assim como o paciente americano, o brasileiro estava com o sistema imunológico prejudicado – pois tinha passado por um tratamento contra linfoma (câncer do sistema linfático). Os pesquisadores brasileiros redigiram um artigo científico descrevendo o caso.

Em setembro de 2020, seis meses após o tratamento de câncer, o paciente tem febre, dor de cabeça e dores no corpo. Procura um médico, e testa positivo para o Sars-CoV-2. Recebe dois antibióticos (eles servem para conter a pneumonia bacteriana secundária, que pode se manifestar em pulmões feridos pelo coronavírus) e volta para casa. Mas os sintomas pioram e ele procura um hospital, onde é internado. Nesse momento, sua taxa de oxigenação no sangue é de apenas 87%. 

O homem melhora e, no final do mês, tem alta do hospital. Mas, alguns dias depois, volta a apresentar sintomas – cansaço, dor no peito e dificuldade em respirar – e é novamente internado.  Piora bastante e chega a ser entubado. Apesar disso, ele se recupera mais uma vez, e tem alta do hospital após três meses. 

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Alguns dias depois, os sintomas voltam (febre e falta de ar), e ele é internado mais uma vez. Neste momento, a batalha do paciente com a Covid já supera quatro meses. A doença está no 134o. dia, com testes de coronavírus (realizados nos dias 6, 77 e 128) sempre dando positivo. O caso passa a ser acompanhado com ainda mais atenção – e o homem é submetido a exames de Sars-CoV-2 nos dias 134, 141, 148, 155, 162, 169, 196 e 218. Todos apontam a presença do vírus. Em nenhum momento o homem desenvolve anticorpos contra o vírus. 

Os cientistas analisaram geneticamente as amostras dos dias 6, 77, 134, 168 e 196. Todas pertencem à linhagem B.1.128, que é comum no Brasil, mas o vírus acumula mutações durante o decorrer da doença: são ao todo 13, sendo 4 “sinônimas” (não alteram a estrutura do vírus) e 9 “não-sinônimas” (mutações que trocam ou eliminam aminoácidos do vírus, e portanto modificam sua estrutura e funcionamento). 

O resultado é uma variante única, que se originou dentro do corpo do paciente. Esse fenômeno pode representar um risco epidemiológico: se a pessoa transmitir o vírus para outras (inclusive médicos ou enfermeiros, caso esteja internada), pode introduzir uma nova variante na sociedade. No caso do paciente brasileiro, não há sinais de que isso tenha ocorrido. 

Desde o surgimento das primeiras mutações do Sars-CoV-2, no ano passado, os pacientes com comprometimento imunológico são considerados possíveis focos de novas variantes. Isso porque, neles, o corpo não consegue eliminar o vírus, que passa longos períodos se replicando – e tendo oportunidades para acumular mutações. 

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