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Bruno Garattoni

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Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.

Manaus tem 66% da população infectada – e pode ter alcançado a imunidade de rebanho, diz estudo

Afirmação é de cientistas da USP, que testaram a presença de anticorpos contra o Sars-CoV-2 em amostras de sangue dos moradores da cidade

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Atualizado em 5 set 2024, 09h06 - Publicado em 23 set 2020, 15h28

Afirmação é de cientistas da USP, que testaram a presença de anticorpos contra o Sars-CoV-2 em amostras de sangue dos moradores da cidade

Manaus foi especialmente castigada pela pandemia: em maio, chegou perto de um colapso do sistema funerário, que não dava conta de enterrar os corpos dos mortos. No começo de julho, a cidade começou a reabrir seu comércio, mas os casos de Covid-19 não voltaram a disparar. Por isso, alguns cientistas têm especulado que a cidade poderia estar próxima da chamada imunidade de rebanho, situação em que parte significativa da população já foi infectada por um determinado vírus – e, por isso, ele tem dificuldade em encontrar novas vítimas, o que desacelera sua propagação. 

Um estudo publicado hoje por um grupo de pesquisadores da USP apresenta o argumento mais forte, até agora, em defesa dessa tese: segundo o trabalho, 66% da população manauara já foi infectada pelo Sars-CoV-2, o que já seria suficiente para colocar a cidade num estado de imunidade de rebanho (que começa, pela definição mais aceita pela comunidade científica, quando pelo menos 60% das pessoas de um determinado local já foram infectadas).

Uma vez por mês, a partir de março, os pesquisadores da USP testaram amostras de sangue de 1.000 moradores de Manaus, e constataram o seguinte. A soroprevalência (quantidade de pessoas que possuem anticorpos contra o vírus, e portanto já foram infectadas por ele) era de 0,7% em março, subiu para 5,5% em abril, disparou para 39,9% em maio e chegou a 46,3% em junho. A partir daí, ela começou a cair, sendo de 36,5% em julho e 27,5% em agosto. Isso acontece porque os anticorpos desaparecem naturalmente do organismo – é um fenômeno normal, e não significa que a pessoa tenha perdido as defesas contra o vírus.  

Em seguida, os cientistas criaram um modelo matemático para corrigir as distorções inerentes à pesquisa. As pessoas que doaram sangue, e foram testadas para a presença de anticorpos, eram mais jovens e saudáveis do que a média da população. Também havia maior proporção de homens, e os testes utilizados não eram perfeitos – podem dar até 15% de falso negativo. Depois de compensar essas variáveis, os pesquisadores da USP chegaram às seguintes taxas: 0,7% de infectados em março, 5% em abril, 45,9% em maio, 64,8% em junho, 66,1% em julho e 66,1%, novamente, em agosto. Por esses números, Manaus já teria alcançado a imunidade de rebanho.  

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Os pesquisadores também testaram amostras de sangue de moradores da cidade de São Paulo. Os dados brutos indicam que, em agosto, 12,1% dos paulistanos já haviam sido infectados pelo novo coronavírus. Aplicando o modelo de correção, chega-se a 22,4% – um patamar muito abaixo do de Manaus. Para os cientistas, não é possível afirmar que São Paulo esteja em imunidade de rebanho. 

“Hoje vemos muito mais pessoas usando máscaras e, embora o comércio tenha reaberto, a mobilidade ainda está restrita e as escolas permanecem fechadas, bem como os cinemas e teatros. É possível que esses fatores tenham segurado o crescimento da doença por aqui [em SP]“, afirmou Lewis Buss, um dos autores do estudo, à Agência Fapesp.

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